domingo, 20 de fevereiro de 2011

f a n t a s m a g o r i a

afastado de um vício que já não tenho
sobrevivo uma vida em que já não creio
me iludo por pena, medo e receio
desvelando no estômago o novelo
de seda (com o bicho dentro)
prato perfeito para o Camões genérico
que se ama tanto
mas que não chega aos pés
de sua sombra no rio
na verdade, sombra que nem se projeta
tamanha fastasmagoria
sonha, nesse eu literário
Tive medo de outros verões:
1997 quase não cheguei a Imbé;
1995 fui e voltei na mesma noite, antes da virada do ano;
2003 más companhias e energias, Rosa;
e sempre, nesse ínterim,
nevando em Manhatan.

o l h a o c é u

tanta fome deixei de saciar
por pura esperança
que chovessem pedras.
não me serviram

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

por conta do sossego
vendi meu emprego
vendi meu desejo
e comprei passagem só de ida
para o confim
de qualquer lugar
sem sombra

onde o nada
por ser nada
me entristece
e o que sobra
são vestígios
de pegadas
de rastros
nulos
e orientes

orientes
cerebrais
orientes
orientes
orientais
demais
demais
a mais
não poder
demais
até não
poder mais

domingo, 13 de fevereiro de 2011

m e l

o que a melancolia depõe
é a simples saudade
de ser o que não fui
saudade dor pouca
que longe longe
sopra voz grave
quase escuto
quase

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

r e s t o s de c o n t o s

“O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”.

Walter Benjamin