segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O cientificismo
Obscureceu o meu cabelo.
Ou foram as notas musicais
que desceram pela porta da frente
do ciclo virtuoso da nova modernidade?
A fala educada dos astros.
Que sorriem mesmo distantes e à mingua.
Enquanto tememos alguma de suas aparições meteóricas
para deslanchar nossa insignificância sobre o cosmo.

Agradáveis banhos de lua ou de sol
entre semanas mais cinzas de magia ou de ócio.
O instinto inviável de elencar importâncias nos conduz a este tempo
em que não há, não há parâmetro inteiro...
Vivemos as frações de orgias já destemperadas
pelos pesadelos de acúmulo,
de egocentrismo,
de Vênus.
Que amor é esse que paguei a prazo?
Sem saber como comê-lo no ato,
antes do tempo certo ou inexato
do elogio ou do desprezo?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

h o j e

um pouco mais
ou
um pouco menos
do que
UM ACASO ESPECIAL.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

is

Prescreveram flores aos desavisados.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Faço referências veladas a mestres mortos.
E desaprendo a ser, a cada nova sílaba.
Tudo de liberdade que a poesia sugere
É o blefe encarpetado de uma nobreza vazia.
Repetimos, repetimos, repito...
Sou um asno que pensa ser ave,
num pasto azul de absinto.

r e v o l t o s

Quando respiro
Tenho um grito
ou um rugido ali
Dentro.
Ou fora.
Porque ecoa.
E quando cala,
permanece.
Ainda mais denso
no olhar
daqueles que passam.
Não olham
nem interrogam.
Sou eu que os vampirizo.
Com esse suspiro,
esse rugido...
Grito:
- A paciência me atordoa!
Mas sou dela.
Apesar de, francamente, inquieto
com tudo que me rodeia e voa.
Habito o entre lugar de meus pensamentos.
Onde, por frações, a nada reajo ou desejo.
O Tejo?

domingo, 7 de novembro de 2010

Ainda descubro porque pedi um violão no Natal de 1991.
E porque minha vó me mostrou ele antes do Natal, dentro do armário.
Fiquei lá, e um pouco de mim ainda está,
entre casacos e camisas com aquele cheiro de vó.
Algo de mofo, ou de pó, não sei...
mas era algo tão misterioso.
Um instrumento.
Acho que a sede de luz e de sombras daquele lugar
me deu essa ânsia de experiência sonora.
Uma viagem que nunca sei onde vai dar.
Paradas, viradas, cegueiras, fissuras...
Tudo em turbilhões e momentos tão únicos.
Por dias, gostaria de ser um Beatle,
noutros sequer consigo solfejar um dó.
Um cancioneiro esparso
Esparso de si,
entre tempos distintos.
Melancolias e euforias plenas.
Por vezes musicais.

sábado, 6 de novembro de 2010

Pesadelo é a flor que adoece
antes de tocar o solo...
no ar.
Aos poucos
compartilho
os poucos
e bons tons
da lucidez
precoce.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Nesta mortalha resisto.
E apesar da morte, revivo.
Enquanto a vida não fizer sentido,
enquanto permanecer como filho preferido
da inapetência ao toque mágico do sol
e do carinho efêmero destes astros mais gelados.
Assim, sinceramente esquecido e equidistante,
pela própria consciência de si,
permanecerei inerte ao tempo.
Camuflado no estado de não ser.
Pólo anti-gravitacional na atmosfera
serena de um só tempo.
A única morte que podemos ter,
entre tantas outras vidas
muito menos eficientes,
é este sorver maturado
entre tantas outras sementes.
Que ora brilham, ora decaem veementes,
mas não vingam,
não neste solo onde jazemos,
húmus muito apropriado ao canto,
mas impróprio a nutritividade.