terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

a nova nova era, de novo, mais uma vez


depois da globalização, da integração, da inteligência coletiva, da convergência, da revolução 4.0 e tantas outras, a nova onda retórica do turbocapitalismo são as tecnologias exponenciais. andamos no caminho irrefreável da singularização, da inteligência artificial irrestrita e de um paradigma de abundância colaborativa. abundância colaborativa? parece até comunismo. no novo cenário, todo cidadão é uma espécie de empreendedor de si, que age não mais como o assalariado de outrora em busca de estabilidade, ou o proletário que tenta se organizar para dialogar e negociar com quem detém e acumula imenso lastro de capital e riqueza no planeta. o self-made man do século XXI está seguro de onde quer chegar e em qual sociedade acredita, e parece dotado de força sobrenatural para fazer seu mundo acontecer a partir de seus propósitos. ele já não nasce com a corda esticada, com a faca no pescoço ou com a água batendo na bunda. têm autonomia. o efeito colateral da nova era, no entanto, é o restrito número de vagas disponíveis. o mundo corporativo, cada vez mais despersonalizado, transnacional e inacessível às leis, regras e circuitos de controle burocrático estatal, gera riqueza com as colaborações premium dos bem-sucedidos (startupeiros e afins), ou sortudos oportunistas da vez, mas quem arca com os milhares, talvez milhões de mal-afortunados que serão substituídos pelas tecnologias exponenciais, pelas plataformas, pelas desintermediações, pelo avanço irrefreável do progresso acumulativo? quem não está disposto a correr, talvez deva ficar sobre as árvores, como fizeram os ancestrais dos hominídeos, na África, há cerca de cinco milhões de anos. o único problema é que, ao contrário da escassez fabricada do século XX, a sociedade capitalista de hoje vive uma escassez real e já não temos tantas árvores para nos refugiar. o fim dos paradigmas da acumulação e da escassez enseja lindos sonhos, mas quem consegue dormir com um barulho desses?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

gosto da expectativa de fevereiro, do descaso de julho, da frustração de dezembro. o resto são os meios tempos entre o desejo e a morte.