depois da
globalização, da integração, da inteligência coletiva, da convergência, da
revolução 4.0 e tantas outras, a nova onda retórica do turbocapitalismo são as
tecnologias exponenciais. andamos no caminho irrefreável da singularização, da
inteligência artificial irrestrita e de um paradigma de abundância
colaborativa. abundância colaborativa? parece até comunismo. no novo cenário,
todo cidadão é uma espécie de empreendedor de si, que age não mais como o
assalariado de outrora em busca de estabilidade, ou o proletário que tenta se
organizar para dialogar e negociar com quem detém e acumula imenso lastro de
capital e riqueza no planeta. o self-made man do século XXI está seguro de onde
quer chegar e em qual sociedade acredita, e parece dotado de força sobrenatural
para fazer seu mundo acontecer a partir de seus propósitos. ele já não nasce
com a corda esticada, com a faca no pescoço ou com a água batendo na bunda. têm
autonomia. o efeito colateral da nova era, no entanto, é o restrito número de
vagas disponíveis. o mundo corporativo, cada vez mais despersonalizado,
transnacional e inacessível às leis, regras e circuitos de controle burocrático
estatal, gera riqueza com as colaborações premium dos bem-sucedidos
(startupeiros e afins), ou sortudos oportunistas da vez, mas quem arca com os
milhares, talvez milhões de mal-afortunados que serão substituídos pelas
tecnologias exponenciais, pelas plataformas, pelas desintermediações, pelo
avanço irrefreável do progresso acumulativo? quem não está disposto a correr,
talvez deva ficar sobre as árvores, como fizeram os ancestrais dos hominídeos,
na África, há cerca de cinco milhões de anos. o único problema é que, ao
contrário da escassez fabricada do século XX, a sociedade capitalista de hoje
vive uma escassez real e já não temos tantas árvores para nos refugiar. o fim
dos paradigmas da acumulação e da escassez enseja lindos sonhos, mas quem
consegue dormir com um barulho desses?
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
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