terça-feira, 31 de maio de 2011

toda vez que tentei aprender karatê
o vento foi muito pesado e me derrubou
e sempre disseram ter sido culpa do homem
o homem que, ao vento, não se curvou.

terça-feira, 24 de maio de 2011

com o pouco silêncio
que habita a cidade
emudeço o coração

embora soe falso
o ruído de minhas preces
pulsa calado ladeira abaixo

uma névoa se aproxima
novos tempos, talvez?
mais provável que seja

o bom e velho caminhão do lixo.
afinal, quem o recolheria
ao fim deste soneto falso?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

vendi meu sorriso
por um dó falso
agora não disfarço mais
a boca banguela
em canto desafinado.

domingo, 22 de maio de 2011

quero te seguir
assim como tudo que pensa aqui dentro
enzimas e células proteicas
inteligência que te pertence.
em detrimento de um cérebro só
ferormônios fazem verão.
toda vez que morro
percebo a tua voz
e ela antecede o desastre
como o sopro saudoso
que sou quando já não mais.
sem as palavras
sinto mais perto dos astros
mas a linha epígrafe
combina melhor
com o mármore
e o vermelho da sala:

"era de afeto e não se sabia".
um plano
entre dois lábios
e o acaso
virou boca fechada.

sábado, 21 de maio de 2011

auto organização
tratados de convivência.
muitas vezes desconheço
o que prende e aproxima
de toda vida
de tudo que importa e é vital.
anestesia e ruptura.
e vivo quase desfalecido
sem saber o que move
esse ou aquele traço
o que provoca essa ou aquela fome.
tenho angústias e sono em meus braços
e apesar de sentir-me amado
e rodeado de muito mais do que mereço
exerço um falso egoísmo
uma falsa satisfação comigo mesmo
sem perceber as regras
que fazem da vida
um carrossel inanimado
quase perfeito
de tão roto.

domingo, 15 de maio de 2011

eu, que nasci a três minutos
tu, prestes a morrer
quem está mais perto da morte?
qual merece viver?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

o velhinho e o recém-nascido
esperam o ônibus
defronte a Praça Dante.
assistem a um assalto,
a pseudo-arte de rua,
a uma liquidação da Barriga Verde,
a um coletivo onde se acotovelam operários.

Já não sei qual dos dois está
mais próximo da vida.
neblina e noite
indefinidamente.

terça-feira, 10 de maio de 2011

teu olho

vida em intensidade
coragem em abundância
resta saber:
pra onde?

domingo, 8 de maio de 2011

poema
câncer
sangre
entre
lábios
pernas
teorias
de caos
e boa morte

sobrevivemos
por teimosia
piores
e mais
fortes
quase
eternos
se não
fosse
a ecosorte
a despedir-nos
em favor
das bactérias

quarta-feira, 4 de maio de 2011

b ú s s o l a


todos descaminhos levam a Roma.

(com o bolso cheio de pedras
absorvemos o ar rarefeito
da exuberância ocidental
não existem fotografias
filmagens não são permitidas
nossos souvenirs são ruínas
que pesam a medida em que alçamos vôo
até a mácula selvagem de nossa terra
aqui onde a fortuna dos bichos
é serem homens sob a pele de búfalos
ou cernes sob carapaça malemolente
onde rumar contra a corrente
não é aceito, porque tudo é Norte
sim, tudo é Norte indefinidamente...)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Vislumbro a magia dos astros
enquanto piso em terra seca
e tropeço nos cadarços.
o mais difícil é ser humano
tendo a carne corroída
pela humanidade.
que em nada imita
o Olimpo criado em
reflexo ao selvagem.
é,
simplesmente,
amparada pelos desejos
recôndidos e incipientes
da carne nascente
pensante e fadada ao crime
tanto quanto ao amor;
mas em medidas sempre ferinas
quando trata de um
amargo, sem sal
e despreparado
bom coração.
(que em nada imita o humano)