sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

eu era moço muy jovem
sequer sombra tinha
não sei se porque o sol me ignorava
ou porque o chão me sustentava invertido
mas era divertido não ferver
apesar de, eventualmente, evaporar
a racionalidade tecnocrática domesticou a esquerda. esquecemos uma lição básica: vivemos em contradição. queremos distribuição de renda e iphone ao mesmo tempo, sim! essa é a base material de onde parte o pensamento crítico. mas fomos colonizados pelo pensamento dicotômico da direita. é isso ou é aquilo. não se contradiga! caminho perigoso. em lugar de unidade dialética, balaio de gatos minoritários e lacrando. uns contra os outros, uns apesar dos outros. favorecendo, sobre o manto sagrado do lugar de fala, certas superficialidades redutoras. é atitude hypster criticar o Bolsonaro, mas quais as contradições animam seu discurso e as adesões a seu projeto? por que minorias que ele ataca relativizam seus discursos, enquanto nós, intelectuais orgânicos da esquerda, não conseguimos lembrar dessa herança que foi o materialismo dialético? somos contradições. alienados, mas vivos. com sede de mudança, mas canibais. devorando nossas iniciativas de resistir como se fossem erros crassos. a direita festeja, pois herdou a filosofia do perdão e da penitência de sua verve cristã, e se multiplica, graças a sua moral infiltrada na nossa falta de fé.