terça-feira, 28 de agosto de 2012

ventrículos
ventríloquos
vendidos
vencidos

não pulso
mastigo rarefeito
intertempos
já pretéritos

insípidos
incipientes
incólumes
entorpecentes

fragrâncias mudas
das amendoeiras
que mentem
cerejas verdes

domingo, 26 de agosto de 2012

o pai se desespera
a medida em que
seus erros ganham vida
embora disponha de bons acertos
desconsolados
inconsoláveis
sobre colcha familiar

sua mão maltrata veemente a argila com o ímpeto da obrigação
não teremos sol por tempo indeterminado
e moldar na chuva é tudo que um artesão
sem habilidade não quer
sobretudo quando tem o ventre
e o álibi de barro e sonha com temporais
pés enterrados na areia ondas que lambem todas experiências

água é mesmo o estado da adolescência
tratemos de secar nossas crianças
antes da próxima ressaca revolta

terça-feira, 21 de agosto de 2012

não pego carona com a doença
ela dirige muito bem
e tem pressa
faz as curvas em aceleração centrípeta
direto ao ponto
o miocárdio
o hipotálamo
a próstata
culpa dos acentos
agudos
como ela
como ela
sem sal
hipotensão

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

vende-se alívio a granel
enquanto o PIB decresce
a tensão enrijece
e o homem adoece
por R$1,99 compra-se
filosofias e come-se filósofos
de boa tez, de muito boa tez

domingo, 12 de agosto de 2012

uma última poesia sobre pais:
o anti-herói
que cresce iluminado
pela bravata e pelo excesso
de zelo ou autoridade
deixando a morte como herança
e tantos outros ouros que
um dia também morrem
mas que ao menos ri
de forma destemperada
da minha desgraça iluminada
pelas pupilas de tantos outros
que me ignoram despreocupadamente
enquanto enterro meus dentes
agora quebrados
no barro úmido e batido
da pista de bicicross

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

meu guerreiro está deitado
e se masturba
velado por abutres

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

meu oráculo
canta pela manhã
e sorri a tarde
quando o futuro
está mais próximo
casa comigo?
sou aquelas
frases prontas
que te fazem feliz
(e sangrar pelo nariz)
houve um tempo
em que meu melhor momento
era a madrugada
quando eu conversava,
liturgia do acaso,
em calorosas
enfumaçadas
perspectivas
sobre ser
estar
permanecer
(en) tornar
se

entre bundas virtuais
e binários mudos
tento relembrar
esse que fui
muito menos
lido
mas mais
sabido
de um
si um
tanto mais
tantos

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

junto cacos perdidos
em blogs fantasmas
não sei mais as senhas
não sei mais os antigos nomes
vago em purgatório imaterial
como o purgatório real
dos tempos da catequese
quando fantasmas
só nas mentiras dos padres

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

insisto em sorver
ferro junto a camomila
da leiteira
embora ondas
bem mais faceiras
abrilhantem
com calor subatômico
a flor calmante
ofuscam e revelam
outras propriedades
tão ou mais
pertinentes
do que a própria
doçura ou alívio
(pobre
de plutônio
enriquecido
empobrecido
em microondas
de alívio)
é um chá
completo
de calor
que não provém
da mesma matéria
(do reverso?)
ou inverso sublime
cerebral