segunda-feira, 11 de setembro de 2017

atropelamos um enxame de abelhas na estrada, campos de cima da serra. explodiram no para-brisa, irreconhecíveis. o susto desse gotejar amarelo pastoso no vidro gerou uma mistura de cinema e misticismo. o que significa isso? o que vem a seguir? roteiro ou maldição? desfecho ou prece? chegamos vivos e notamos que uma abelha se salvou pendurada no limpador. bom presságio ou capítulo dois.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

hoje (21 de maio de 2017)


hoje eu sou só aquele poeta morto que sempre esteve solto entre você e o vulto transparente em meio a pia e o box do banheiro. poetinha de samba de chuveiro que faz renunciar o preconceito final de domingo. poeta que ama bingo, que louva gringo, que paga fiança de amigo do peito e do patrão (desde que valha o pão que o coiso amassou). hoje eu sou só um poeta, e bom pecador. não mereço condenação, a propina foi sangue, a ruína o botox. que poesia há em ser lírico quando já substituímos o carvão? nem mesmo a gasolina é parâmetro ou tom. meu poema é pós-humano, é dodecafunk. está a milhas e léguas de qualquer sabor, pois destila os sentidos em paraísos fiscais. nas ruínas de Sísifo, nas cordas do boxe. é um sequestro de palavras, é uma lástima, é um dom. tudo acumulado, ao contrário do refrão, tudo acumulado, como se o cúmulo fosse bom, como se o acúmulo ainda fosse o tom do século. o acúmulo é o eco, o estampido é seco. nem à ressonância temos direito, já está tudo liquefeito, estatuto liquefeito. mas te telefonei e ofereci a confissão, preferiste o perdão, quem dera fosse efeito da vida. ela o renunciou, desde os Lusíadas, nem Camões esperava estar sóbrio para comer a América, ébria, como uma máquina do tempo, como o sentimento piegas de Judas e São João. a América é um álibi, o último álibi, que ainda destoa apesar da bolsa de valores, do pregão e da penetrabilidade das frases de efeito made in China or Made in France. a renascense ao avesso é uma nascença (em dó maior). dor maior?