sexta-feira, 30 de setembro de 2011

cara
tentei tocar aquele
som
mas a voz não saiu
quando
um gelo senti
entre
estômago e garganta

não consegui
tocar ou aceitar
essa dor.

t e m p e s t a d e

tempestade
um quadro, arte, um ideal
de luto estão
cordas bambas
mataram o violão
quanta euforia

tempo pára quase
se não sobra nada
de pingos de chuva
poças

quem
quando
onde
como
não sabia amar?

essa noite
é de
festa
ou de celebração?
pela vida

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

eu tinha dúvida
quase certeza
de que certo quase culto
a um eu mesmo
um tanto ou mais
inteiro do que o eu
verdadeiro
proviria mais
de uma vontade de
mantê-lo cheio
animado
do que de uma existência
propriamente material

desde que somos um
tento entender
o que penso
fora do teu senso
buscando nesse outro
entremeio
entre eu mesmo
e eu cheio
de nós

acho que existe mais por fé
do que por memória
já não sei se sou mesmo uno
se fui, um dia
pura crença para ter
ao menos
com o que lhe surpreender
nos diferenciar
fugir do espaço
tranquilo e inaudito
do conforto
aquela amizade terna
demais
onde nos conhecemos

permaneço esse
bobo crente
mas desconhecido
a espera do presente
que recrie o
que um dia
(será?)
já tenha sido

se é que...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

meu filho de dois meses
me ensinou algo ontem
não, não foi viver o presente
foi levantar uma sobrancelha só por vez.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

tu desassossega
o meu desassossego sempre
...
tão do mesmo jeito
apago tudo
para ver a Lua

que não existe mais

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

casei por dinheiro
não me pagaram
divorciei por vingaça
e o prato tava quente
reclamei pro garçom
que pagou gorjeta
para que eu, enfim, desaprendesse
um pouco da vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

a poesia acontece
e tento narrá-la em tela branca
quando súbito adentra,
no sétimo andar, o estrondo

o moedor de lixo avisa:
"uma da manhã"
exato instante em que
volto a realidade

de que muito de minha herança
(talvez valiosa parte)
deixa de ser na boca do caminhão
enquanto expurgo teclas.
analiso tudo que inda não sou
no silêncio dos livros
que já não li.
Tento não ser cáustico ao tomar gota e palavra por falta de sono. Mas parece que o humor sempre desafia o verbo a melancolia. Gostaria de contar futilidades sobre fraldas sujas, sorrisos efêmero-eternos, paz interior. De fato, seria indicado cultivar deus sempre assim, na imaterialidade que lhe faz presente, ou na impossibilidade da língua, profusão do gesto. Uma fé que se habilita pelas carícias com o destino ou com o desejo, conforme o rigor do inverno. Seria sensível com o próprio autor, ter a sinceridade como fundo da colheita, ou ao menos, tecê-la reverenciando frutos e não heras. O que motiva nem sempre surge do próprio umbigo, anima o espírito, ou assemelha-se a uma imagem competente. Cresce a mentira, a medida em que descrevo minha verdade, mais docemente. Em detalhes. Porque eles, de fato, não me preenchem, são pura brochura, onde o Barroco já não tem vez. E se valesse a pena, contar segredos e galardões aos que passam desavisados pelo meu mundo, eu seria um pouco menos ou pior, do que o arremedo cego de rima rica que não se quer recitada. É assim, bolsa sem alça, pesada, que despejo aleatoriamente o sentido d'eu mesmo, mas não o que vive e transborda, mas aquele que sobra. Rancoroso na origem, pela carne que deixa de adoecer diariamente, pela felicidade inenarrável que visita este mesmo corpo, fruto da impermanência, ou da dialética (como preferirem os transeuntes).

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pátria

independência é morte.
Não?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

as favas
com
as farpas
arte é neblina
enquanto eu
mantiver
olhos abertos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

um velho átomo
um velho deus
se reconciliam
no cérebro de Freud
em cabeça de Einstein
embora tudo
pareça só design