sábado, 29 de outubro de 2011

por que gritos
de revolução
se não sei
ao certo
o nome da rua?
sempre que a neblina se instala
aqui no 6º andar
procuro a pomba
de farol acesso
e olhos claros
que prometeu
bodas, louros,
fim do azar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quem ousaria mexer
com um homem
mijando na rua
numa calçada
esburacada
no centro da cidade velha
que já fede a iodo e urina
quem ousaria mexer
com um homem
mijando na rua
já que isso
não faz diferença
alguma
quem ousaria?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

e se
casualmente
nos encontrássemos
e depois de dois filhos
alguns desmaios
pânicos, idas e desejos
felicidade abstrata
felicidade concreta
um par de um ou bons planos
lealdade, vida comum, afeição
nos deparássemos
como num espelho
um a olhar o outro
entre rugas, marcas d'água
um pouco de cansaço
o exagero do sol
aquelas noites sem dormir
aquelas noites no bar
o cheiro inebriante de um outro
o fatalismo e a ineficiência do ciúme
se nos perguntássemos
como a si (ou a nós) mesmos
sobre amor
o que esse desbotado espelho
nos responderia
com sua boca murcha
e desfalecida
tantos sopros
tantas falências
sobre esse casualmente
acaso forte?
sem fé em escritos
destinos ou nostalgias de quinta
talvez fervêssemos
um pouco mais
nessa bruma rotina
que nos interroga tanto
obrigando, quase sempre,
a, mesmo caquéticos,
permanecer reinventando
nós.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

um sussuro
de segredo
inanimado
combina
com a noite
impertinente
aos sóis
que já não
se vêem
fruto de um céu
que desembocou
amargo
entre
Alfredo Chaves
e Guia Lopes
bons pastores
das atitudes
politicamente
corretas
de um jovem
atleta da
subversão
extemporânea
contemporeira

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

quando um filho meu adoece
me adoece a alma
e flutua sobre impressão ou desejo
de ser (ele e ou junto dele)
um hospedeiro miraculoso
portando receitas milagrosas
a base de puro afeto
fé e exaltação

e mais tarde
ao sorver dessa cura
que tanto nos embriaga
sorrimos feito loucos
brincamos como pequenos felinos
pipocando entre tapetes alérgicos
e pedras glaciais
aproveitando o que
de fato compartilhamos
esse suspiro
um pouco adiado
de fúnebre
ou de divina
morte

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

de todas as profissões
escolhi a de inquisidor
enquanta achava que era artista
castrando tudo de fonte e de desejo
tentando ser
em ímpeto
sincero

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

l í n g u a m o r t a

desde que moro
no pátio vazio desse teatro
tenho tempo e reflito:
embora tranquilo
bem iluminado
bela vista do humano e do astro
bronze finamente esculpido
esteticamente relevante

apesar de tudo,
não mais me lêem ou interpretam
sou como um Shakespeare
exilado
numa linda e exuberante
estátua de chumbo
que não é,
de longe
minha melhor tradução
uma forma que sorri
embeleza
e dá forma
ao paisagismo do pátio,
mas cujas letras,
obras,
permanências
e ousadias
jazem tortas
nas cabeças
enuveadas
dos meus filhos de sangue
e de palco

sábado, 15 de outubro de 2011

sempre que ergo
um canto franco de protesto
lembro o quão frágil e fútil
é o manifesto
da alma arrependida
pelo que não pode ser
ou o que não é ainda
embora teime
em fenecer
na tragédia
oblíqua
dos merecimentos
observo o filho lindo
e admiro:
o que é meu ali dentro?
nada
tudo
que envolve
é fronteira
indefinidamente...
essa fração pouca
de tempo
em forma
de espaço
que gozo
sempre em dúvida
se palpável
ou cínica
é arma
e álibi
para festejar
a despedida

já não tenho
cheia
a
algibeira
embora
vestido
alimentado
e lisérgico
o sapo
temia
o pântano
por conhecê-lo
demais
mesmo
com a
visão além
do alcance
fantasmas se multiplicam
em redes
estou descrito
num cosmo absurdo
nuvem ou intempérie
reinam absolutas
as pegadas
daquilo que tentei
desaprender
e que retorna
como fracassos
jogados na cara
como desprezos
do que se é
e do que se foi
em ciclo
a paisagem é
torta ou ideal
e pouco significa
quando já não
sei de onde
partiram as naus
sou fraco
como ontem
mas hoje
não me pescaram
tola
toma
coca

hema
toma
vivo

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

filho em braço esquerdo
teclo em direito
verso tangente
o momento é
tanto mais
do que sua
expressão

terça-feira, 4 de outubro de 2011

saber é vertigem
a minha maneira

sutil

no breu
na Bento
policiais investigam
suspeito
após preleção
só se ouve o vento
que assobia
magoado
pedindo um pouco
de atenção
não adianta
nossa pequena felicidade
sem o carimbo
da Disney
ou de Holywood
não vale nada.