quarta-feira, 30 de novembro de 2011

enquanto o prazo
direcionava a vida
a falta de tempo (ou o tempo)
trazia a tempestade
até a janela linda
envidraçada
onde
como balas
chuva tracejava
nas teclas imprecisas
dedos suavam
errando os erres
na súbita escuridão
do céu

estala o relâmpago
perde-se tudo
aqui jaz o capítulo
e a energia
entre o breu e o quarto
ouve-se um crecs
seu filho sorri com os olhos
enquanto masca chupeta
e filosofa
perde-se nada

domingo, 27 de novembro de 2011

eu olho o céu
é o passado
e abençoa
em giro novo
fonte especial
de contemplação
calados olhos
vejo com a pele.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

esse pouco caso
que não se renova
adia a morte
e espalha
essa mortalha
empestada
que nos avisa
sobre as coisas
mais simples
da vida

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

componho o tempo todo
a vida que integra o sonho
musicado retorna
e já não sei o que não vivi

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ganhar tempo
entre amigos
e envelhecer
gratuitamente
pelo simples
fato de lembrar
de quantas boas horas
se fizeram rugas
sabores e feridas.
tantos eus que deixamos
pelo caminho
que já não nos pertencemos...

sábado, 5 de novembro de 2011

desde que sou pai
revivo
dia a dia
minuto a minuto
a efemeridade
de ser filho
e questiono
pergunto
ensejo
como criança mesmo
se a lógica não estaria errada
já que só hoje
deixei de crer
na experiência
como passo dado
apreensível
como herança
exógena
certa vez
um balão desses
de aniversário de criança
matou um cara
ele era cardíaco
mas não sabia
como muitos por aí
não o sabem
e no conforto de seu apartamento
assistia Hitchcock
não sei se Festim Diabólico
Um corpo que cai
Pássaros, talvez
em momento de clímax
ouviu um estranho estampido
vindo da lavanderia
para lá rumou,
pouco antes do desfecho
e ao abrir a porta
aquele ar,
deslocado pelo movimento
movimentou um velho balão preto
que ali restava
da recente festa
aniversário do sobrinho
o vulto
que parecia um corvo
ou um assassino
pronto ao bote
subiu com o deslocamento
veio a altura do rosto
e foi a derradeira imagem
que o homem viu
embriagado de Hitchcock
no coração
e abatido
pela falsa
nuvem preta
do cadafalso
tocou o chão
pouco antes
que o balão

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

aquelas coisas
de morrer a
cada vez.
lembrei muito por acaso, idos de 1997, quando fui até o Garagem Hermética tentar marcar um show. Entreguei a fita demo aos proprietários, que na semana seguinte juraram desconhecer esse fato, sendo que eu via a fita ao fundo, atrás do balcão, certamente com alguma regravação. Tudo motivado por uma súbita percepção de que tínhamos qualidade, sobretudo após presenciar um show de bandas referência da cidade, Porto Alegre, entre elas Walverdes e Space Rave, que num show tributo ao Pixies, cantavam num sonoro enrolês, enquanto nós, suburbanos Urubus Brancos de Esteio, tínhamos certas qualidades, como tocar com sensibilidade, técnica e recriação, música de Pixies e tantas outras (inclusive nossas composições) cantando um bom inglês fluente. Era uma questão de respeito, embora isso não fizesse qualquer diferença, não é?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

um cão mijou sobre minha sombra
naquela praça em 1994
eu já estava noutro século
quando
repentinamente
o senti
era urina
e era eu
sem postura
hipnotizado pela música
ao sonhar com um universo adulto
fosse o sol
de outro ângulo
e tudo seria tão
absurdamente

igual
o que mais pode-se dizer
para preencher as linhas de uma vida digital
que não uma visão
abstrata e repleta de medos
repulsas e relevâncias sociais
a fim de completar
um bom almanaque
de passagem
por aqui ou por Marte
para poder vivenciar
de bem
um bom estado de araque

uma íntima distância
daquilo tudo que faz falta
para o prazer
dignamente
repleto de
raridade




e acaso?
(enquanto
desaprendo a ler
você me (des) creve (pe)
resta todo
sangue
daqueles professores
de ontem
que hoje
são genoma
dessas tiranias
e experiências
entre os abismos
e os pertencimentos
do conhecer