terça-feira, 29 de abril de 2014

Nota curitibana de memória afetiva

Vitamino o corpo com um resto de sol à beira lago
Tenho vontade de apenas estar
mas logo irrompe uma abstração articulada que organiza o sentir
quero apenas estar e não consigo
invade meu raciocínio uma cognição produtiva
mesmo que em favor da poesia
ela não é
não por questões de funcionalidade, belas artes
não é pois está contaminada desse eu produtivo e feroz
a derrubar e distorcer a existência
mesmo quando, fingindo inocência, quer apenas uns goles de ar
as células desobedecem alienadas que estamos na e pela impossibilidade da pausa
não há poesia possível até que a terra cesse sua rotação imantada pelo sol que a extingue
toda linha é impulso

quarta-feira, 23 de abril de 2014

entre tantas coisas absurdas que acontecem na surrealidade diária do mundo do trabalho, fiquei me debatendo sobre o debate em relação à Copa do Mundo. O rito bárbaro da guerra, da disputa pela visibilidade, supremacia, dominação e competição. Ainda em Roma, Pérsia, Grécia, América Asteca. Não consigo abstrair o lirismo da luta porvir, o campo de batalhas entre a bola, a noosfera midiática, os latrocínios de reputação, os oportunismos políticos. Como opinar ante a confusão mental e a coceira no pé direito, que já calça a chuteira, que já arqueia o quadril como num rebolado matreiro de mestiçaria. A feitiçaria travessa dos que não tem dono. Dos que não tem dom. Não sei se sou hábil a frieza do raciocínio para observar de longe aquilo que tortura desde dentro, desde o mais inominável e indescritível sentimento de pertença. Jogo de palavras, jogo ao absurdo como o futebol sozinho contra o muro de cimento descascado. Talvez a fé no futuro seja como a mãe que adverte e esbraveja contra o chutar insistente da bola na parede, a romper o couro do bom tênis de ir à escola, tensa pelo barulho irritante e repetitivo do impacto, enquanto tritura um porco no feijão. É uma imagem que impacienta, irrita, mas quando superada tem sua singeleza. Sofremos de saudade eu e minha mãe. Assim como parece que não nos cruzamos mais, as possibilidades e o tempo disponível, possível. É a rotina apenas a bradar pelo apito inicial, nossa vida escorrerá antes dos 45 minutos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

eclipse vermelho

da montanha a lua parecia maior
lá estava a ovelha a se banhar
cor vermelha de sangue refletida na lã
o lado escuro, o não saber da mudança

tingida com nova cor
uma ovelha em brasa apareceu
queimando todos os cajados
mudança

escurecer a luz da boemia
boemia ou medo de viver
poesia ver a lua clarear após
o eclipse vermelho

alguma madrugada de 1999
apesar de manter a dieta
meu intestino está desregulado
filósofo até as tripas

sexta-feira, 4 de abril de 2014

defronte mar perfeito
tantos que surfam
e tantas ondas que passam sozinhas
pr'onde iam? que sentimentos não conduziram?
remexeram areias mais que endorfinas
quebraram sozinhas ao sol
desejos em parafinas