tenho um livro velho que é de osso
osso pouco denso de agosto
do cachorro oco
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
criar o filho
aparar arestas
amar tanto
duvidar da liberdade presente
em vias de ver futuro educado
criar o filho
plantar no peito incerteza e insuficiência
calar os prantos
com o silêncio da experiência
a experiência inútil
de um passado que se crê benevolente
que tem fé no progresso e na história
criar o filho
ou recriar o mundo?
deixá-lo livre
fedelho
insatisfeito e ácido com a natureza que o circunda
natureza morta modernista
criar o filho?
em que termos?
o filho nos inventa todo dia
ora cara de monstro
ora melhor guitarrista do mundo
ora espanto e angústia
ora braço forte e felpudo
"pai tira a farpa do meu pé"
(porque é farpa e não felpa)
seu sangue escorre pela calçada
mancha a pouca alma que ainda temos
lhe confere contornos
seu sangue é a liberdade que já não temos
não por tê-lo
por sermos criados
por termos criado a própria noção de criatura
ao invés de outra palavra qualquer
mais próxima do puro ser
desobediente e farpudo.
aparar arestas
amar tanto
duvidar da liberdade presente
em vias de ver futuro educado
criar o filho
plantar no peito incerteza e insuficiência
calar os prantos
com o silêncio da experiência
a experiência inútil
de um passado que se crê benevolente
que tem fé no progresso e na história
criar o filho
ou recriar o mundo?
deixá-lo livre
fedelho
insatisfeito e ácido com a natureza que o circunda
natureza morta modernista
criar o filho?
em que termos?
o filho nos inventa todo dia
ora cara de monstro
ora melhor guitarrista do mundo
ora espanto e angústia
ora braço forte e felpudo
"pai tira a farpa do meu pé"
(porque é farpa e não felpa)
seu sangue escorre pela calçada
mancha a pouca alma que ainda temos
lhe confere contornos
seu sangue é a liberdade que já não temos
não por tê-lo
por sermos criados
por termos criado a própria noção de criatura
ao invés de outra palavra qualquer
mais próxima do puro ser
desobediente e farpudo.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
aqui no meu centro deslocado
mundoumbigo imundo
escrevo sinfonias com três instrumentos
pneus que cantam
alarmes que tocam
grunidos de fome de ir até a lua e comê-la inteira em bocada única
com o espeto que sobrasse
espetaria o homem que inventou o medo da noite
a caladanoitepreta borbulhante da cidade
que nos incendeia e acalenta tanto
tanto que nos divide em dois
umbigoaomeio mundo
munido de um eu profundo
mas que é raso como um pranto cheio
mundoumbigo imundo
escrevo sinfonias com três instrumentos
pneus que cantam
alarmes que tocam
grunidos de fome de ir até a lua e comê-la inteira em bocada única
com o espeto que sobrasse
espetaria o homem que inventou o medo da noite
a caladanoitepreta borbulhante da cidade
que nos incendeia e acalenta tanto
tanto que nos divide em dois
umbigoaomeio mundo
munido de um eu profundo
mas que é raso como um pranto cheio
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Para mim, a História é isso, o tempo em que minha mãe viveu antes de mim (aliás, é essa época que mais me interessa, historicamente). Nenhuma anamnese jamais poderá me fazer entrever esse tempo a partir de mim mesmo (é a definição de anamnese) - ao passo que, contemplando uma foto em que ela me estreita, criança, junto dela, posso despertar em mim a doçura enrugada do crepe da China e o perfume do pó de arroz. (Barthes, A câmara clara, p.75)
domingo, 25 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
200 metros mar adentro
sob uma prancha
entretido pelas ondas
pelo sal e pelo frio
partilho de uma fissura sã
um dialeto maori
flutuar
e nos entretempos
ecoar filosofias de maré
entardece e bandos de pássaros
sobrevoam nossas cabeças
vão à ilha do Batuta
sou um deles
vejo minha casa
essa ilha pequena e aconchegante
cercada de pedras
próxima a beira
verde indeterminado
todos os tons
volto pra ela
entre os amigos
somos um bando
e somos felizes
o trabalho acabou
e planamos até a mata
força nas asas
macerando recompensas
vôo em si menor
até o retiro
na terra é perigoso
há muita evolução
o homem evolui muito
prefiro o Batuta
onde só ouvimos os gritos
de disputa pelas ondas
nem rema, nem rema!
(acho que é essa tradução)
sob uma prancha
entretido pelas ondas
pelo sal e pelo frio
partilho de uma fissura sã
um dialeto maori
flutuar
e nos entretempos
ecoar filosofias de maré
entardece e bandos de pássaros
sobrevoam nossas cabeças
vão à ilha do Batuta
sou um deles
vejo minha casa
essa ilha pequena e aconchegante
cercada de pedras
próxima a beira
verde indeterminado
todos os tons
volto pra ela
entre os amigos
somos um bando
e somos felizes
o trabalho acabou
e planamos até a mata
força nas asas
macerando recompensas
vôo em si menor
até o retiro
na terra é perigoso
há muita evolução
o homem evolui muito
prefiro o Batuta
onde só ouvimos os gritos
de disputa pelas ondas
nem rema, nem rema!
(acho que é essa tradução)
terça-feira, 30 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
extraio
até o último frêmito
o eu objetivo
que não tem tempo
para beijar
deitar no mar doce o puro sal
eu sistêmico
rejeita coração
pulsa por complacência
ama por indiferença
cobra caro
as feridas em pus
as gonorréias
as Nefertites
as Vênus constirpadas
e nas madrugadas
qual Maria (do João)
se revela um podre poeta
com bafo parnasiano
romântico predicado
adjetivo inconformado
pela escrita não conforme
desforme?
uma coletânea de novas expressões nos espera
o armário é frondoso
as traças sequer o circundam
o perfume exala fresco
lavanda do Nepal
filosofia rarefeita
só no nível do mar
só na cidade perfeitamente
concebida para o drama
e o isolamento
para o porre do pijama
e a engomada eucaristia
do texto
não sei mais
porque não me expresso
a língua já morreu
tento crer em Dalai Lama
que toma mais cevada do que eu
que meditando alcanço a chama
o olho mágico, deus
deito e morro um terço
o resto tem compromisso as seis
até o último frêmito
o eu objetivo
que não tem tempo
para beijar
deitar no mar doce o puro sal
eu sistêmico
rejeita coração
pulsa por complacência
ama por indiferença
cobra caro
as feridas em pus
as gonorréias
as Nefertites
as Vênus constirpadas
e nas madrugadas
qual Maria (do João)
se revela um podre poeta
com bafo parnasiano
romântico predicado
adjetivo inconformado
pela escrita não conforme
desforme?
uma coletânea de novas expressões nos espera
o armário é frondoso
as traças sequer o circundam
o perfume exala fresco
lavanda do Nepal
filosofia rarefeita
só no nível do mar
só na cidade perfeitamente
concebida para o drama
e o isolamento
para o porre do pijama
e a engomada eucaristia
do texto
não sei mais
porque não me expresso
a língua já morreu
tento crer em Dalai Lama
que toma mais cevada do que eu
que meditando alcanço a chama
o olho mágico, deus
deito e morro um terço
o resto tem compromisso as seis
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
no paraíso e no retiro
de minhas expectativas
encontro certa autossuficiência
pouca ciência
reminiscência
companhias demais para um verme adicto
vim a pé de minha última morada
comprei uma bicicleta para a empregada
cuspi nos pássaros
cusparada letrada
e queros-queros
pedantes soletraram inconstitucionali...
não há constituição
não a constituição
de outra ordem penitente
isso pelo mero e eterno despudor
pelo velho e etéreo vigor
em viver as expectativas
as perspectivas mais modernas
de toda nudez
sadia e castigada
toda
mesmo calada
velada
ao meio
pelada
de minhas expectativas
encontro certa autossuficiência
pouca ciência
reminiscência
companhias demais para um verme adicto
vim a pé de minha última morada
comprei uma bicicleta para a empregada
cuspi nos pássaros
cusparada letrada
e queros-queros
pedantes soletraram inconstitucionali...
não há constituição
não a constituição
de outra ordem penitente
isso pelo mero e eterno despudor
pelo velho e etéreo vigor
em viver as expectativas
as perspectivas mais modernas
de toda nudez
sadia e castigada
toda
mesmo calada
velada
ao meio
pelada
domingo, 23 de setembro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
dos cálices que enxugamos
dos vermes com quem brindamos
sem culpa
passemos ao caviar
ou aos frutos silvestres
onde as damas e suas casas herméticas
nos aguardam para o pouso
o verdejar nos deslumbra
mas a crina é cinza
como se todo arco-íris o fosse
em tons daltônicos
envergonhados
da alegria que transmite
e mente esse amarelo crepúsculo
choxo muchoxo
vacinado viroimune
como todo nosso passado
de corpo perfeito presente
rompemos com o pouco de ânsia
que dispúnhamos
e estamos na plenitude do desastre
embora o arco da boa e eterna aliança
nos remova do asilo
como o filho pródigo
banguela e brocha
louco por um despudorado
e fálico reconciliamento paterno
terça-feira, 28 de agosto de 2012
domingo, 26 de agosto de 2012
o pai se desespera
a medida em que
seus erros ganham vida
embora disponha de bons acertos
desconsolados
inconsoláveis
sobre colcha familiar
sua mão maltrata veemente a argila com o ímpeto da obrigação
não teremos sol por tempo indeterminado
e moldar na chuva é tudo que um artesão
sem habilidade não quer
sobretudo quando tem o ventre
e o álibi de barro e sonha com temporais
pés enterrados na areia ondas que lambem todas experiências
água é mesmo o estado da adolescência
tratemos de secar nossas crianças
antes da próxima ressaca revolta
a medida em que
seus erros ganham vida
embora disponha de bons acertos
desconsolados
inconsoláveis
sobre colcha familiar
sua mão maltrata veemente a argila com o ímpeto da obrigação
não teremos sol por tempo indeterminado
e moldar na chuva é tudo que um artesão
sem habilidade não quer
sobretudo quando tem o ventre
e o álibi de barro e sonha com temporais
pés enterrados na areia ondas que lambem todas experiências
água é mesmo o estado da adolescência
tratemos de secar nossas crianças
antes da próxima ressaca revolta
terça-feira, 21 de agosto de 2012
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
uma última poesia sobre pais:
o anti-herói
que cresce iluminado
pela bravata e pelo excesso
de zelo ou autoridade
deixando a morte como herança
e tantos outros ouros que
um dia também morrem
mas que ao menos ri
de forma destemperada
da minha desgraça iluminada
pelas pupilas de tantos outros
que me ignoram despreocupadamente
enquanto enterro meus dentes
agora quebrados
no barro úmido e batido
da pista de bicicross
o anti-herói
que cresce iluminado
pela bravata e pelo excesso
de zelo ou autoridade
deixando a morte como herança
e tantos outros ouros que
um dia também morrem
mas que ao menos ri
de forma destemperada
da minha desgraça iluminada
pelas pupilas de tantos outros
que me ignoram despreocupadamente
enquanto enterro meus dentes
agora quebrados
no barro úmido e batido
da pista de bicicross
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
houve um tempo
em que meu melhor momento
era a madrugada
quando eu conversava,
liturgia do acaso,
em calorosas
enfumaçadas
perspectivas
sobre ser
estar
permanecer
(en) tornar
se
entre bundas virtuais
e binários mudos
tento relembrar
esse que fui
muito menos
lido
mas mais
sabido
de um
si um
tanto mais
tantos
em que meu melhor momento
era a madrugada
quando eu conversava,
liturgia do acaso,
em calorosas
enfumaçadas
perspectivas
sobre ser
estar
permanecer
(en) tornar
se
entre bundas virtuais
e binários mudos
tento relembrar
esse que fui
muito menos
lido
mas mais
sabido
de um
si um
tanto mais
tantos
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
insisto em sorver
ferro junto a camomila
da leiteira
embora ondas
bem mais faceiras
abrilhantem
com calor subatômico
a flor calmante
ofuscam e revelam
outras propriedades
tão ou mais
pertinentes
do que a própria
doçura ou alívio
(pobre
de plutônio
enriquecido
empobrecido
em microondas
de alívio)
é um chá
completo
de calor
que não provém
da mesma matéria
(do reverso?)
ou inverso sublime
cerebral
ferro junto a camomila
da leiteira
embora ondas
bem mais faceiras
abrilhantem
com calor subatômico
a flor calmante
ofuscam e revelam
outras propriedades
tão ou mais
pertinentes
do que a própria
doçura ou alívio
(pobre
de plutônio
enriquecido
empobrecido
em microondas
de alívio)
é um chá
completo
de calor
que não provém
da mesma matéria
(do reverso?)
ou inverso sublime
cerebral
sexta-feira, 27 de julho de 2012
não
eu não escrevo
mais frequentemente
quando estou triste
em estado de mágoa
ou desamparo
é só minha morte
que ruma
e se configura
mais literária
(sem melodrama)
enquanto rabisco
em lenço enlameado
tudo que deixei
de te dizer
(cachorra!
ou seria
perdoa?)
(talvez essa seria
a diferença entre
eu e o poeta
sua expressão
mais direta
e precisa
ao que
de fato está
em voga
a universalizar-se)
ah! se eu te pego.
(pra quê tanto parêntesis?)
e tanto parente, então?
bem pior.
eu não escrevo
mais frequentemente
quando estou triste
em estado de mágoa
ou desamparo
é só minha morte
que ruma
e se configura
mais literária
(sem melodrama)
enquanto rabisco
em lenço enlameado
tudo que deixei
de te dizer
(cachorra!
ou seria
perdoa?)
(talvez essa seria
a diferença entre
eu e o poeta
sua expressão
mais direta
e precisa
ao que
de fato está
em voga
a universalizar-se)
ah! se eu te pego.
(pra quê tanto parêntesis?)
e tanto parente, então?
bem pior.
talvez eu seja
mais um acadêmico
com ar de neurastêmico
psicosociopata
endêmico
tantos genes
indecisos metamorfaram
meu bem viver
metamofaram sinapses
penso por fungos
mistos:
calor-umidade
nulidade-vida
Deleuze fumaria um cigarro
evitaria o olhar
ligaria para Foucault
enquanto poetas niilistas
bem que os intelectuais
tem um porque de existir
entre as espontaneidades
que vivenciam a terra em ato
e uma epifania mais
íngreme advinda
do próprio caos
da indiferença
pirei, será?
mais um acadêmico
com ar de neurastêmico
psicosociopata
endêmico
tantos genes
indecisos metamorfaram
meu bem viver
metamofaram sinapses
penso por fungos
mistos:
calor-umidade
nulidade-vida
Deleuze fumaria um cigarro
evitaria o olhar
ligaria para Foucault
enquanto poetas niilistas
bem que os intelectuais
tem um porque de existir
entre as espontaneidades
que vivenciam a terra em ato
e uma epifania mais
íngreme advinda
do próprio caos
da indiferença
pirei, será?
terça-feira, 24 de julho de 2012
sábado, 21 de julho de 2012
quarta-feira, 18 de julho de 2012
quinta-feira, 12 de julho de 2012
quarta-feira, 4 de julho de 2012
0 3 d e j u l h o
noite adentro, vinha pela sombra
navegando entre Farrapos e Santo Antonio
viola em punho
entre damas da noite
e o baixo clero das esquinas
da estação até o ap
na cabeça palavras do falangeiro
um certo nequinho a caminho
filho homem ainda em grão
futurologia da fé mística, mesmo
já que de minha natureza
passada meia-noite
terreno inóspito
mas consciente, aliviado
inspirado subindo a ladeira
Garibaldi que de rua
se transmutou em vizinhança serrana
sentado na sacada curta
tateando a lua
(como se a fosse encontrar)
umedeci os lábios para
um dos últimos brindes musicais
uma ode ao filho que acreditei já conhecer
antevendo manias e personalidades
quatro anos depois
é promessa cumprida
é vida para além da vida
muito maior do que qualquer prova material do
divino
é divindade manifesta
em sutil fôlego de pai
este sim, milagre instalado
em corpo fadado ao solo
olhe olhe olhe olhe o jeito do menino
deixe a presença prencher o ar
amo a esperança de tua imagem
a estrela
vamos jogar
ciranda, angola, capoeira
breve, leve
o eterno de mim
tão longe
musiquei
empunhando o violão
e nova vida em filosofia
em visão de caboclo
eis
quarta-feira, 27 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
domingo, 10 de junho de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
quinta-feira, 24 de maio de 2012
d' um fotolog perdido
O movimento dá asas
e as despedidas pegadas.
E nesse espaço entre algo e alguma coisa
nasce toda certeza sobre o eu estático.
Basta cessar já desconheço o que aprendi na viagem.
Tenho a impressão de estar sempre de partida,
e tenho a ilusão de ver um futuro novo em cada dobrinha do firmamento.
E sigo, caminhos percorrendo,
quase sempre percussivos
impiedosos,
sem silêncio.
Porque o silêncio mora oculto no caminho.
O eu parado é só ruído.
Seguem-me as chamas descobertas na estrada.
E fecho a porta, e a vida é nada.
Porque a ânsia de partir é sempre maior que o sentido de chegar.
E tudo se acumula, imperceptivelmente
Até o dia caridoso de minh'órbita...
ligado 16 novembro 2005
e as despedidas pegadas.
E nesse espaço entre algo e alguma coisa
nasce toda certeza sobre o eu estático.
Basta cessar já desconheço o que aprendi na viagem.
Tenho a impressão de estar sempre de partida,
e tenho a ilusão de ver um futuro novo em cada dobrinha do firmamento.
E sigo, caminhos percorrendo,
quase sempre percussivos
impiedosos,
sem silêncio.
Porque o silêncio mora oculto no caminho.
O eu parado é só ruído.
Seguem-me as chamas descobertas na estrada.
E fecho a porta, e a vida é nada.
Porque a ânsia de partir é sempre maior que o sentido de chegar.
E tudo se acumula, imperceptivelmente
Até o dia caridoso de minh'órbita...
ligado 16 novembro 2005
quarta-feira, 23 de maio de 2012
tinha uma música
minha também
um texto sobre um texto
contava a aventura
de uma formiga
perdida quando transportada
por um caminhão de lixo
o aterro era seu novo paraíso
mas ela acabava assim:
(com um verso Pignatárico)
"do que me vale
todo luxo do lixo
se meus amigos
não estão
presentes"
um poeminha infantil
como bem sabe ser o pensamento
adolescente que se acredita adulto
embora memória esparsa
empoeirada, desmagnetizada
aprisionada em fita K-7
no fundo de uma gaveta
o fragmento se ressignificou
nessa manhã
quando dentro da romã
notei um mundo
a frase com sabor de quinze anos
inundou os sentidos
fez vibrar essas crendices faceiras
que se reaprendem
a cada colheita
enquanto a existência parece assim
essa fruta escancarada para a vida
com tudo aquilo que ela pode ser
entre bichos e sonhos e asas de cera
foi quando aprendi a tentar escrever
como refúgio
na tentativa incólume
de guardar uma ou outra semente
há, hoje, um suave aroma
um suco que evapora
restolho na ventania
mas que ainda flerta e musica
sua seiva obsessiva
de tanta adolescência
revivida
terça-feira, 22 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
"sessão de laser para olheiras"
mensagem endereçada a Caim
que matou seu irmão Abel
e não mais dormiu
em Guantánamo
no ipod:
discursos de Fidel
palestras criativas
entre celas e salas de sol
mais perfeitamente céu
fruto do poder da criação
ou do grande irmão
olho que tudo vê ou crê
poder vingar-se
você aí, nessa câmera
é Abel, meu irmão?
é Abel? meu irmão
morto
é
mensagem endereçada a Caim
que matou seu irmão Abel
e não mais dormiu
em Guantánamo
no ipod:
discursos de Fidel
palestras criativas
entre celas e salas de sol
mais perfeitamente céu
fruto do poder da criação
ou do grande irmão
olho que tudo vê ou crê
poder vingar-se
você aí, nessa câmera
é Abel, meu irmão?
é Abel? meu irmão
morto
é
sexta-feira, 4 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
terça-feira, 3 de abril de 2012
p á s c o a by Felipe e Henrique
quinta-feira, 29 de março de 2012
essa célula que não me pertence
que tanto ri e que se chama câncer
sobrevivente de uma tentativa de conto
ainda adolescente
escreve em ritmo frenético
sobre o mar e as andorinhas
sobre os afrescos parisienses
e as entresafras de boa arte e vinho californiano
é epilética e insegura
embora flua sem acidentes
pelas paredes arteriais
os muros que não nos separam
pontes elétricas
gênios mortos
gêmeos em humana jornada
sobrevida
que tanto ri e que se chama câncer
sobrevivente de uma tentativa de conto
ainda adolescente
escreve em ritmo frenético
sobre o mar e as andorinhas
sobre os afrescos parisienses
e as entresafras de boa arte e vinho californiano
é epilética e insegura
embora flua sem acidentes
pelas paredes arteriais
os muros que não nos separam
pontes elétricas
gênios mortos
gêmeos em humana jornada
sobrevida
quarta-feira, 28 de março de 2012
domingo, 18 de março de 2012
terça-feira, 13 de março de 2012
ela não tem a bolsa de futuros
sequer passado
sequer um gênero pensado
é o ente
na esquina da Júlio
que sorri entre dentes rasgados
e botulínicas bochechas
de araque
que talvez seja sincero
pai ou irmã de família
mas que desorienta
o herdeiro da bolsa sem futuros
que passa em meteórica
e autoexpressiva
conduta moral irretocável
paralelepípedos
testemunham
a soma das economias diversas
entre cobertas e conversas
descobrem-se
afãs
e nada explica
bocas desertas
a enfrentar rigorosos
outonos na serra
fruto da distância nominal
entre dois pontos que não se sabem
não se conhecem
(se encontram?)
as pedras contam
onde estão as veias
da cidade
por elas
só trafegam amorais
que estão em aberto
ocupam o meu o teu nome
dormem no meu ou no teu corpo
em qualquer noite dessas
e acordam
nas suas realidades absurdas
de fundos e pregões
acreditando na materialidade
da cesta básica
e da bolsa de futuros sem futuros
na humanidade cansada
e hipócrita
de nossos sonhos de ontem
sequer passado
sequer um gênero pensado
é o ente
na esquina da Júlio
que sorri entre dentes rasgados
e botulínicas bochechas
de araque
que talvez seja sincero
pai ou irmã de família
mas que desorienta
o herdeiro da bolsa sem futuros
que passa em meteórica
e autoexpressiva
conduta moral irretocável
paralelepípedos
testemunham
a soma das economias diversas
entre cobertas e conversas
descobrem-se
afãs
e nada explica
bocas desertas
a enfrentar rigorosos
outonos na serra
fruto da distância nominal
entre dois pontos que não se sabem
não se conhecem
(se encontram?)
as pedras contam
onde estão as veias
da cidade
por elas
só trafegam amorais
que estão em aberto
ocupam o meu o teu nome
dormem no meu ou no teu corpo
em qualquer noite dessas
e acordam
nas suas realidades absurdas
de fundos e pregões
acreditando na materialidade
da cesta básica
e da bolsa de futuros sem futuros
na humanidade cansada
e hipócrita
de nossos sonhos de ontem
sexta-feira, 9 de março de 2012
o sono que nos deixa
pouco antes da uma
talvez queira dizer
para banhar-me à lua
ao natural
deitado numa sacada
que sequer existe
mas que imagino tê-la
sob meus ombros
entre o pé do sofá
e a estante da sala
num assombro
triste pelo sono perdido
embalar Fransciso
que finge que dorme
mas já com índole de bandido
desata a relatar sua vida
e as passadas
reinventando os primeiros
sons de PE
os mais lindos até então
com disposição a percorrer
três Maracanãs
E depois que a atividade
se desloca para o intelecto
em desordem
miro lá embaixo
flores mortas e amarelas
que fogem ao vento
o ônibus que tarda em passar
e chegar
um funk gritado
de Cordeiro a Isaac Hayes
(de tão distorcido até fica bonito)
ar rajada que inventa melodias
(ou será que sou eu nessa febre inquieta
de madrugada matraca!)
tanta vida que passa
embora as grades
tanta energia
que realiza a cidade
(pra quê eletricidade?)
tão pouca coisa
que combina com paz
quase esqueço que não estou deslocado
que não inventei esse século
e nem o álcool
que ainda tenho 20,
quem sabe 30 e alguns anos
de criatividade
fruta madura
pra descer ladeira abaixo
na tentativa não exitosa
de sorver suavemente
meu pedacinho contente
de úmida burocracia
o pouco silêncio até tenta
mas não denuncia meu plano
de sabotar o sistema
nervoso central
e implantar um dvd pirata
com sons de mar
mantras de yoga
fés mais eucarísticas
em resposta a minha profusão dilema
espítito-Karde-cristian-budista
que acorda perto e depois da uma
compõe estrofes
redige laudas
tão sábias
quanto um bife ao ponto
sem sangue
sem carvão
sem tinta
o núcleo do que não entendo
o anti-senso
por certo
paradigmêsmico
pouco antes da uma
talvez queira dizer
para banhar-me à lua
ao natural
deitado numa sacada
que sequer existe
mas que imagino tê-la
sob meus ombros
entre o pé do sofá
e a estante da sala
num assombro
triste pelo sono perdido
embalar Fransciso
que finge que dorme
mas já com índole de bandido
desata a relatar sua vida
e as passadas
reinventando os primeiros
sons de PE
os mais lindos até então
com disposição a percorrer
três Maracanãs
E depois que a atividade
se desloca para o intelecto
em desordem
miro lá embaixo
flores mortas e amarelas
que fogem ao vento
o ônibus que tarda em passar
e chegar
um funk gritado
de Cordeiro a Isaac Hayes
(de tão distorcido até fica bonito)
ar rajada que inventa melodias
(ou será que sou eu nessa febre inquieta
de madrugada matraca!)
tanta vida que passa
embora as grades
tanta energia
que realiza a cidade
(pra quê eletricidade?)
tão pouca coisa
que combina com paz
quase esqueço que não estou deslocado
que não inventei esse século
e nem o álcool
que ainda tenho 20,
quem sabe 30 e alguns anos
de criatividade
fruta madura
pra descer ladeira abaixo
na tentativa não exitosa
de sorver suavemente
meu pedacinho contente
de úmida burocracia
o pouco silêncio até tenta
mas não denuncia meu plano
de sabotar o sistema
nervoso central
e implantar um dvd pirata
com sons de mar
mantras de yoga
fés mais eucarísticas
em resposta a minha profusão dilema
espítito-Karde-cristian-budista
que acorda perto e depois da uma
compõe estrofes
redige laudas
tão sábias
quanto um bife ao ponto
sem sangue
sem carvão
sem tinta
o núcleo do que não entendo
o anti-senso
por certo
paradigmêsmico
quarta-feira, 7 de março de 2012
m o m
Perdi meu rumo
no reflexo do verão no céu
Não sei se posso culpá-lo assim
Não sei se devo dizer a mim mesmo que errei
Que falta ruim
Tua distância me causa
Volta
Chega de uma vez
Mas chega
com o inverno também
Pois o calor
já derreteu minha esperança
E o passado
Não mata mais minha sede
1998
no reflexo do verão no céu
Não sei se posso culpá-lo assim
Não sei se devo dizer a mim mesmo que errei
Que falta ruim
Tua distância me causa
Volta
Chega de uma vez
Mas chega
com o inverno também
Pois o calor
já derreteu minha esperança
E o passado
Não mata mais minha sede
1998
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
as vezes
e muitas vezes
sinto-me exilado
em Caxias
quando
entre um cacho e outro
de boas uvas
vejo meus amigos
na tela da TvCom
vivendo
absurdamente
de arte
E tantos momentos
ridículos surgem
quando percebo
que essa ânsia
do existir
impregna tudo
tão facilmente
súbito percebo:
de que arte estamos falando, mesmo?
de que amigos?
(me orgulhei)
o exílio é tão ou mais doce que a fruta
tão ou mais ridículo
do que esse nomeado folclore
anglo-saxão ítalo-burguês
muito mais real do que músicas e teatros
pseudo-cosmopolitas do sul
o centro tem o perfume
do interior rebuscado
que se atualiza
nos delírios de grandeza
de nós
transeuntes
entre esses estados
de prosa e desamparo
pelas carências humanas
Assim, perdidos
entre as migrações
e as identidades imperfeitas
não parecemos dignos da estética
embora a dor justifique
tanta expressão
efêmera e aleatória
e muitas vezes
sinto-me exilado
em Caxias
quando
entre um cacho e outro
de boas uvas
vejo meus amigos
na tela da TvCom
vivendo
absurdamente
de arte
E tantos momentos
ridículos surgem
quando percebo
que essa ânsia
do existir
impregna tudo
tão facilmente
súbito percebo:
de que arte estamos falando, mesmo?
de que amigos?
(me orgulhei)
o exílio é tão ou mais doce que a fruta
tão ou mais ridículo
do que esse nomeado folclore
anglo-saxão ítalo-burguês
muito mais real do que músicas e teatros
pseudo-cosmopolitas do sul
o centro tem o perfume
do interior rebuscado
que se atualiza
nos delírios de grandeza
de nós
transeuntes
entre esses estados
de prosa e desamparo
pelas carências humanas
Assim, perdidos
entre as migrações
e as identidades imperfeitas
não parecemos dignos da estética
embora a dor justifique
tanta expressão
efêmera e aleatória
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
escrevo sobre uma criança
suas pequeninas mãos
olhos que a tudo bem recebem
ainda azuis
porvir...
se estivesse apaixonado
escreveria sobre o amor
embebido em dores
talvez narrasse um conto sujo
se morto?
não escreveria
ou escreveria torto
sobre o medo de estar morto
(mesmo na superação
dispomos de argumentos)
tudo mentira
nem que escrevesse tudo
chegaria a verdade
quem sabe no bloco
onde andam meus cadernos, mesmo?
se eu ainda flanasse pelas ruelas criminosas
de minha pequena cidade
com angústia e sangue entre os dentes
talvez,
ainda sorvesse de alguma materialidade distinta
de um gole mais perecível
tudo é perfeito em fundo branco
até mesmo o que penso
não pertence ao meu desejo
mas à luminosidade que rouba
de minha pele a pouca vida que aprendi
aqui
escrevo porque luto contra o silêncio
fúnebre do pasto interativo
do comboio de carentes
da luz que tinge a face de branco
e o peito de ocre
num estado de paz inventado
pela sutileza
da invasão bárbara
ao sentimento do ingênuo.
suas pequeninas mãos
olhos que a tudo bem recebem
ainda azuis
porvir...
se estivesse apaixonado
escreveria sobre o amor
embebido em dores
talvez narrasse um conto sujo
se morto?
não escreveria
ou escreveria torto
sobre o medo de estar morto
(mesmo na superação
dispomos de argumentos)
tudo mentira
nem que escrevesse tudo
chegaria a verdade
quem sabe no bloco
onde andam meus cadernos, mesmo?
se eu ainda flanasse pelas ruelas criminosas
de minha pequena cidade
com angústia e sangue entre os dentes
talvez,
ainda sorvesse de alguma materialidade distinta
de um gole mais perecível
tudo é perfeito em fundo branco
até mesmo o que penso
não pertence ao meu desejo
mas à luminosidade que rouba
de minha pele a pouca vida que aprendi
aqui
escrevo porque luto contra o silêncio
fúnebre do pasto interativo
do comboio de carentes
da luz que tinge a face de branco
e o peito de ocre
num estado de paz inventado
pela sutileza
da invasão bárbara
ao sentimento do ingênuo.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
o mosquito pinta na tela
o único sentido possível:
encontre um caderno
urgente
com bela capa
de preferência em couro flexível
uma borracha de presilha
caneta preta ponta fina
folhas canson ou pouco tratadas
com texturas de palimpsesto
quem sabe com as histórias
reescritas
encontre, perdidas
entre bravura e atos heróicos
a pouco poesia
que, de fato
valeu a pena
(invisíveis nos recados
e nos audiovisuais)
o único sentido possível:
encontre um caderno
urgente
com bela capa
de preferência em couro flexível
uma borracha de presilha
caneta preta ponta fina
folhas canson ou pouco tratadas
com texturas de palimpsesto
quem sabe com as histórias
reescritas
encontre, perdidas
entre bravura e atos heróicos
a pouco poesia
que, de fato
valeu a pena
(invisíveis nos recados
e nos audiovisuais)
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
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