quarta-feira, 23 de maio de 2012


tinha uma música
minha também
um texto sobre um texto
contava a aventura
de uma formiga
perdida quando transportada
por um caminhão de lixo
o aterro era seu novo paraíso
mas ela acabava assim:
(com um verso Pignatárico)
"do que me vale
todo luxo do lixo
se meus amigos
não estão
presentes"
um poeminha infantil
como bem sabe ser o pensamento
adolescente que se acredita adulto
embora memória esparsa
empoeirada, desmagnetizada
aprisionada em fita K-7
no fundo de uma gaveta
o fragmento se ressignificou
nessa manhã
quando dentro da romã
notei um mundo
a frase com sabor de quinze anos
inundou os sentidos
fez vibrar essas crendices faceiras
que se reaprendem
a cada colheita
enquanto a existência parece assim
essa fruta escancarada para a vida
com tudo aquilo que ela pode ser
entre bichos e sonhos e asas de cera
foi quando aprendi a tentar escrever
como refúgio
na tentativa incólume
de guardar uma ou outra semente

há, hoje, um suave aroma
um suco que evapora
restolho na ventania
mas que ainda flerta e musica
sua seiva obsessiva
de tanta adolescência
revivida

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