terça-feira, 29 de junho de 2010

t ã o s ã o j o ã o


Lembro?
Lembro sim.
A primeira vez que quis ser escritor.
Algo tão distante e impossível
Que escrevi no caderno
Como uma carta de náufrago.
Tanto ficou na cabeça que perdi o papel
No que a frase permanece.
Intangível pela necessidade de viver (tinha 14 anos)
Agora tanta vida que não me atrevo a escrever,
A contar um tempo,
Tão depressa passado.
Que não ficou pra trás,
Sim, cá está.
E quanto mais vida
Menos audácia.
Nada a dizer ou escrever
No silêncio noturno das passagens
Onde os muros e os ares dizem mais
Pela distância que demarcam,
Pelo saber que tecem,
Descompromissados,
Desavisados,
Impermanentes.
Eles esperam, como eu, pela ponta do lápis
E o macio encontro do desejo em ato.
Não.
Não me lembro.
Ainda não lembro como ser escritor.
Muito vivi e tenho vivido.

C a m õ e s

Sobre rios que vão
por Babilônia, me achei,
Onde sentado chorei
As lembranças de Sião,
E quanto nela passei.
Ali o rio corrente
De meus olhos foi manado;
E tudo bem comparado,
Babilônia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

"...somos contos contando contos..."

Na caverna de Platão ou Saramago.
Pensamos que o mundo são as sombras.
Realidade a partir de monóculos e caleidoscópios
E tantas outras lentes e imagens que nos decompõe.
Este mesmo fogo que aquece
e nos projeta na parede
É toda tecnologia de que dispomos
para organizar as sedes prioritárias,
fabular as mesmas antigas histórias
que nos acompanharam
da carne à imaterialidade
desta pedra pintada de sombra.
Este novo símbolo
nos adiciona
e subtrai
ao tempo
umedecido da caverna,
entre fagulhas e certezas,
calor que a tudo consome.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

entre sete sentidos
e seis vidas
escolhi dormir.
só ficaram as pupilas.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

N o i t e d e S ã o J o ã o


Renasci numa noite
que foi uma vida inteira.
Uma noite que ligou
lua a estrela.
De tão extensa.
Foi quando o passado
queimou no presente
tantas convicções,
que o futuro parecia
um prato cheio
de desejos deliciosos
e quentes.
Porque fazia frio.
Sim. Era inverno.
E embora não geasse
era tinta de cego
aquilo que víamos entre
as aragens.
Fagulhas de promessas...
sempre promessas.
A nos guiar entre os
arvoredos...
Acabou assim aquela noite
que nunca termina.
Acabou assim como a vida.

atualização

Diante de uma foto minha
ainda em filme,
mas expandida em tela plana
aqui, num destes campor virtuais,
pensei demoradamente...
Em quantos lugares e tempos passei
e por ali estar, habitei oportunamente
um verso de prata e metais.
Imprimindo esta minha personalidade
equidistante
entre o nada e o lugar nenhum.
Em tantas gavetas ou mundos empoeirados,
que não dizem mais nada de mim
(ou quem sabe nunca disseram).
Sorrindo por vezes,
empunhando copos por outras,
empanando perfis exagerados que só a adolescência permitiria.
Eu ali, entre outras vivências e tragos,
multiplicado em presença
e memórias.
Destempos
e esquecimentos.
Quem eu fui em tantos outros campos?
Com quem fiquei, por quem lutei?
(para aqueles que não me conheciam
e mesmo assim me guardavam, ou, pior! ainda me guardam.
ali, em seus guarda-roupas, em seus cabides fantasmas,
em seus álbuns estranhos desaparecendo)
Quem fui eu lá?
Quem sou eu aqui sem aqueles? Somado a eles?
Embrutecido sem a totalidade.
Eis que o quadro aparece aqui.
Imaterial,
em minha parede de vidro.
E estabeleço contato.
Me faz viver algo que ainda não vivi,
pois a memória que aciona está além do que consegui guardar,
como uma herança ilusoriamente plantada.
Num campo vazio, sem interior.
No árido sangue da juventude ou da beleza vicinal.
Não sou aquele, não sou este, quem?...
O sonho que ainda vibra no filme
capturado entre a câmara e a luz.
Este parece ser o ente que ainda resiste aos
esquadros da imagem multifacetária
e viva que me anima.
A desaparecer da gaveta
para dentro da tela
revisitada no eu.
(ao menos naquele que acho que conheço)
Eis..

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Preciso de um clássico

Num trem.
Voltava de Florença e ouvia ópera.
Verdi.
Verme.
Eu me sentia.
Imundo entre chineses
sentia latente um desejo
de brasilidade.
Canha, afeto ou churrasco.
Para um eunuco vegetariano ébrio?
Sim, como a cura
da China que invade a Itália,
um copo de Ásia.
Bem gelada!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

mo (rr) er

e quem sabe se minhas cinzas serão eu
ou uma nova pergunta?

(OB) l i t e r a n d o

eu não escrevo.
leio na contramão.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

sem
es
tru
tu
ra
es
cre
vo
me
lhor.
sem
es
cre
ver
es
tru
tu
(ro
bô)
rrão
o que posso dizer de Ti?
Que sorri
Inteira
Sempre que tonteia
Fruto do
Hilariante
Gás
Tônico
Capilar
de um desejo.
Olhos perseguem
sabor
e
cor
e
cheiro
de guaraná.
Fruta madura
e verde
do pólen
contraste recente
tintas da estação.