terça-feira, 29 de junho de 2010

t ã o s ã o j o ã o


Lembro?
Lembro sim.
A primeira vez que quis ser escritor.
Algo tão distante e impossível
Que escrevi no caderno
Como uma carta de náufrago.
Tanto ficou na cabeça que perdi o papel
No que a frase permanece.
Intangível pela necessidade de viver (tinha 14 anos)
Agora tanta vida que não me atrevo a escrever,
A contar um tempo,
Tão depressa passado.
Que não ficou pra trás,
Sim, cá está.
E quanto mais vida
Menos audácia.
Nada a dizer ou escrever
No silêncio noturno das passagens
Onde os muros e os ares dizem mais
Pela distância que demarcam,
Pelo saber que tecem,
Descompromissados,
Desavisados,
Impermanentes.
Eles esperam, como eu, pela ponta do lápis
E o macio encontro do desejo em ato.
Não.
Não me lembro.
Ainda não lembro como ser escritor.
Muito vivi e tenho vivido.

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