sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

her me nêu ti ti ca



Um ciclo e mais um
e neste meio tempo te pude existir.
Um dois e mais três
e passaram as carruagens rumo à Moldávia.
Seis, oito, 15 nós e sequer somos marinheiros.
(mas a habilidade que dispomos para amarras é notável)
Atados os botes, os tronos, os cavalos;
as selas armadas, as plantas fincadas no solo,
tudo enraizado como se vento não existisse
como se água e areia não se conhecessem.
tu e tu
e água e
areia.
vidro e vapor
se encontram, se condensam;
escrevo no bafo embaçado:
é amor toda tinta violeta que perdi?
transmutação
para (o)
além (de)
um ano bom
. (...)

pilhagens

em muitos momentos
tenho sensações de sonho

fecho os olhos e alço vôo lento
sobre minhas telhas

desperto, enxergo em transparência
os sentidos ocultos das pessoas

se me perseguem, desligo
se me adoecem, espirro

tintas surreais,
sem vírus.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

eram deuses


os astronautas?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Brilho Eterno


Brilho Eterno

Escrevi um bilhete
para esquecer-te
para esquecer-me
de trás pra frente.
Na minha mente
estás presente
não li o que escrevi
não te perdi
só a mim.
Te reconheci
na foto apagada era abril
dezembro talvez
não lembro do mês
sei que te falei vou te amar
se você deixar
o cabelo laranja
toda lembrança de tantos momentos banais.
Somem no mar,
papéis nos descrevem iguais.
Se parecença,
se é doença,
te quero de novo ou mais
esse brilho eterno
onde a memória desfaz
toda certeza
resta a natureza de amar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008



as vezes
sinto não ter espalhado ao vento
tanta semente boa que brotaria
com um só momento
de abelha
ou beija-flor.
tento respirar mais suavemente e não consigo.
Consumo um ar pesado que parece vir de dentro.
Do esôfago, ou daqui, deste amargor sensível...
hei de descobrir porque todos sabem tudo
de mim.
E eu esperando um trem azul numa estação de puro Sol.
Sem saber sequer a quem, por quem e por que devo tantas explicações sempre.

Acho que é essa inconsistência da minha personalidade,
essa tez maleável que a tudo se adapta, se adere, se homogeiniza.
Água demais para vinho tão seco.
Não tenho paladar...

domingo, 7 de dezembro de 2008

não sei mais
escre
ver

terça-feira, 25 de novembro de 2008

porvir

aprendo tanto contigo
todo dia.
Rejuvenesço enquanto cresces.
Logo encontraremos idades
numa descontínua esquina da vida.
Não nos quero apressados, ou de partida
porque temos muito o que contar
sobre nossas impressões de ontem.

...

?en que creen
los que
no creen?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

desejo as asas

Procurei
ondas
embalam enquanto a vida passa.
E quanto da vida passará?
E quando a vida pára
meus olhos encontram teus olhos.
Danço a tua danço
quero te crer
te sambar
te saber
te cantar para acima do Sol
Adoração de sonda sideral
em órbita lunar.
Em órbita
na tua pele minha sombra
ofusca teu lado lilás
entre um pecado e um gole de um beijo bom
eis a soma,
nossa fração ideal
Enfrento a gravidade e o alarde da queda
sim
Anjo de luz
Querubim
ao chão pelo desejo imperfeito
de ver o amor
nascer em Si.

sábado, 15 de novembro de 2008

Mañana

Mato um mate.
Amor
Amargo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cheia



Tanto tempo sem cantar à lua bela.
Sinfônica, cheia transbordou...
encheu de branco um pátio estéril
nasceram sonhos de algodão.
Ali deitado ao ver estrelas
bebi da luz que ela roubou.
Mas não basta ser, para refletir beleza.
Algo de novo a lua tem
escrava, amante, guia,
mais uma vez nesta janela imensa
tento compreender
tudo que ela inspira, fulgura, faz crescer
tudo em benefício da mesma terra que não a deixa partir...
Eu de lá, ela daqui
a enunciar desejos libertários além céu.
A atmosfera silenciosa, sem pranto, escuta...

domingo, 9 de novembro de 2008

hai cai pir a

por piórcio
que parerça
se ergue´n´mim
a fome

dormingo

Dorme domingo
passatempo, inventa
um dominó moderno.

melanfolia


Tento fugir da armadilha de uma melancolia promíscua,
saudade dor,
lembrar por lembrar.
Procuro um tema célebre entre minhas vidas
para deste arrepio sentido
doce e gélido
erigir beleza e descompasso
numa criatividade latente de viver por mover o acaso.
Tento saborear a arte fecunda de lembranças fúnebres,
de pretéritos rasantes,
brilhantes pelo átimo da memória.
Assim, viso compor nova história,
nunca antes interpretada,
mas presente numa galeria inacessível
desta inconstante caixa de pensar e de pandora.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

volver



Fome de palco
fome de cena mais justa
do que simplesmente este toque
açúcar, plástico, retina seca
de todo dia.
Esta cena vazia
Esta história cumprida
comprida de tão esguia.
Tento não esquecer as notas,
súbito,
esqueço os amigos,
e aprecio tal capacidade.
aprecio a in-corporeidade em mim.
Névoa intensa em que me transformo
quase sempre sem querer
até que pensamento, ou instinto
resolve reunir todos itens ali mais uma vez:
átomos, aura, desejos, carma
vísceras, um balde de gelo, inspirações.
Eu, quase completo à espera de tu,
a espreita de um tempo nem tão deserto,
ou tanto mais ermo quanto possa
ser...
não espero uma sentença linear no momento.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

cai

Não encontrei a nem b
caminhando
pela Feira do Livro.

domingo, 26 de outubro de 2008

aguante la musica



Ouvindo este novo cd do pexbaA me deu saudade de muita coisa. As excursões com a SOL, a primeira vez que vi um show deles, pelo menos inteiro, que foi lá em Curitiba, no Teatro Paiol. Aliás, um teatro, apesar de meio abandonado na época, cheio de mística, lindo, uma arena pra lá de climática. Lá dentro estava tudo tão perfeito naquela noite, com público quente. Tocar ao lado de bandas como Wandula e pexbaA, nossa! Foi absolutamente mágico. Aí, ao longo deste dia, passei a conhecer as pessoas por trás das músicas e aí tudo fica muito maior, mais importante, as palavras, ou as notas ganham muito mais sentido, é um sentimento meio absurdo. Porque acho que música é sobre humanidade, apesar de toda natureza vibrar na forma de melodias, a expressão humana da música é algo que nos aproxima, uns dos outros. Numa espécie de coletividade, parecida com a das células, assim, todas ali, juntinhas, combatendo, indo pra lá e pra cá, tapando buracos, lutando contra invasores, estas coisas. Quando pessoas que musicam se encontram e vibram juntas, não tocando, mas sim vivendo, se integrando, se conhecendo, formulando teorias a respeito da vida, se admirando, enfim, se amando, porque não, parece que buracos do mundo estão sendo tapados, concertos estão se realizando, ou a humanidade está entendendo mais de si mesma num ato simples de idéias cambiantes... tudo isso me passou, enigmas da saudade de musicar, ou de estar junto de amigos, de estar com o pé na estrada ou de estar vivendo uma constante e cortante estrada dentro do peito. O caminho leva a um caminho, que chega numa porta, que abre para uma ponte, que cruza um rio, que corta um cidade, que some no horizonte, que gira com a Terra, que atravessa o cosmo de forma contínua... espero o movimento das estrelas para revê-los.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

e assim...



Presentes
que embelezam tardes frias
Inesperados
presentes
na ausência de um dia
na ardência de um desejo veemente
de ver-te,
de rever-te,
de ter-te,
de ser-te
sereno
verde,
como a bruma imaginário de sonho estranho.
Ausentes
todos os sentidos
Ausentes
na presença dos amigos.

o furo é mais embaixo



Esperamos a próxima tragédia. Desde que tenha público, bom lugar para posicionar as câmeras, fácil acesso, posto para curiosos, um pátio, ou jardim para o pessoal da imprensa esticar pernas e bocas. Uma boa cobertura, vários ângulos, TV com papel de polícia, polícia com papel de vítima, delinquente com papel de estrela principal, vítima como figurante e o público pagando com sua irreprimível necessidade de aliviar as próprias tensões na dor e na desgraça do vizinho.

Tudo pode, só não no meu!
Imagino cobeturas espetaculares em tempos de Gengis Kahn ou César, muito mais apelo, até porque a declaração universal dos direitos humanos ainda não tinha sido escrita e não era tão imoral rir da infelicidade alheia. Haja estômago para ser humano, viu?!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

eis


olhar
atravessa
meu ser
e tempo.
o infinito
mora ali
dentro.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

crio gênese

A pesar procuro
Apesar de procurar
no escuro

e no escuro achar
a fonte de tudo
novo

novamente

um velho encontro
foge lentamente



na fonte

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

pudera


Gostaria de explicar melhor isso tudo aqui dentro.
Vulcões, braseiros, muralhas, vento
Enfim
o ínfimo
e o infinito
sentido d´eu mesmo.

good luck in Kentucky

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Salve


abre alas que ele quer passar!

terça-feira, 22 de julho de 2008

deutsch park



que saudade dos meus tempos de criança

quarta-feira, 4 de junho de 2008

De neve


Espelho, espelho seu
existe alguém
mais mais do que
Cê?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Novo galho

Forasteiro mais uma vez.
Vôo de cidade a outra e
Nos pousos de café
Não consigo pertencer a mais nada.
Tenho uma intimidade crescente
Com meus sonhos de menino.
Visualizo aqueles dias mais quentes
E neles sei do que preciso.
Sombra de canção popular
De colorir e de ninar.
Só agora entendo perfeitamente o que fui.
Só aqui fora vejo o contentamento ali dentro
No perfumado coração de pai.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ócio não criativo

Acordo apressado por um tempo que não é o meu. As urgências já não cabem na agenda, páginas cheias de escritos, em letras pequenas, alguns grifos em canetas vermelhas e semanas amassadas por um folhear rápido demais.
Estou preocupado, não tenho aproveitado produtivamente meu tempo. Nem para gerar riqueza material, nem para me realizar como ser humano. Os dias mais parecem um aquecimento vencido, para um jogo que não vai acontecer. Sensação engraçada.
Sei que soa utópico querer ver o mundo do meu jeito, e as pessoas a meu redor não cansam de me convencer que não posso fazer isso. Ou seja, o melhor é baixar a guarda e render-se a essa desenfreada correria pela acumulação. Mas li e uma amiga me disse: quem trabalha demais não tem tempo para ganhar dinheiro.
Essa justificativa me dá uma preguiça... uma vontade de sentar numa sombra macia, de árvore, não vale concreto, e ficar ali, observando a razão acontecer, o homem correr desbaratinado, para assim, sentir as idéias florescerem na cabeça como na Renascença. Daí, talvez, pudesse extrair um propósito decente para tanto apego. Pena. Não tenho tempo hoje, aliás, nem hoje, nem amanhã, minha urgência é pra ontem, já foi!
Aí falta comida, falta petróleo, falta tolerância, falta água, falta vergonha e sobram manchetes perguntando: Por que? Será que é sério? Não, eu não acredito que seja, não acredito que as pessoas, ou os responsáveis pela comunicação, os juízes e as autoridades, os padres, os vilões, todos nós não saibamos o porquê.
Se não dá tempo nem pra pensar, como as coisas poderiam fluir, como o mundo poderia se direcionar. Somos como um rio que corre sem assimilar seu leito, nem sua foz, quanto menos sua desembocadura... Fazemos a via pedregosa e lamacenta da existência sem parar, morro abaixo e na pressão; a natural, vinda da gravidade, e tantas outras que criamos insistentemente. Estamos subindo rio, morro acima, mas não dá mais tempo pra raciocinar e entender que assim não vai, não vai mesmo! Será que de fato não dá mais tempo?
Bora trabalhar que a chuva desceu...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

save



Aquela paróquia lá no Guabiroba Baixo construída antes de 1950, ou depois?
Terra sagrada, benzida por São Jorge!
Eia!
Vamos vencer apesar da terra menos fértil!
Vamos vencer apesar do corpo mais impestado!
Vamos vencer apesar do clima desolador!
Vamos vencer apesar dos inimigos serem tantos!
Vamos vencer porque do coração exaltamos o amor!
e assim, mesmo batalha perdida alimenta...
Salve cavaleiro do cavalo imaculado!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Varal de poesia



Imprever é acasar.
Manter os olhos fechados e a boca aberta.
Sentir
sabor
vivo
ao tempero
do tempo.
Saliva
sumo
tudo ali dentro...
Contentar-se
desconcertadamente.
Digerir
do acaso
o contexto
Pronto ao
próximo
bote ou
beijo.

Som de rito pop




É difícil imaginar a existência do homem sem a música. Mesmo se descartarmos os sons, a observação de movimentos, de imagens, de formas sempre nos sugere ritmos e construções sonoras. Apreciar a musicalidade é muito mais que um simples exercício auditivo, ou um estudo matemático de combinações agradáveis de elementos distintos. Música é uma experiência primitiva anterior à linguagem e anterior ao próprio homem.
Uma experiência mística dos povos que veio tornar-se um produto, como qualquer artigo da sociedade de consumo. Apesar da assimilação da música em estado puro, pelo universo do capital, ritmo e sonoridade ainda formam a base para rituais das mais diferentes etnias em todo mundo. A ligação do homem com sua origem, sem levar em conta crença ou tradição, está intimamente conectada à musicalidade. Através da manifestação musical índios, batuqueiros, cantores gospel, pastores da universal, aborígenes, uma infinidade de grupos celebram suas passagens. Casamento sem valsa, carnaval sem cortejo, como seriam?
A união dos sons rituais com o culto pop contemporâneo celebra alguns grandes êxitos comerciais e muitas experiências de inovação musical, algumas um tanto desconhecidas do grande público. Ravi Shankar é exemplo de um grande expoente do misticismo musical ritualístico convertido em celebridade pop. O sitarman indiano trouxe para o Ocidente o som doutrinário de seu país e o misturou com a produção de entretenimento puro. O resultado foi sucesso em larga escala, tanto entre os adeptos religiosos quanto o público ligado ao seu estilo, simplesmente.
Nem tão populares, os brasileiros do Terrero de Jesus temperam cânticos de candomblé com a pimenta do jazz a la New Orleans. Soam como novidade, mas esta fusão parece remontar algo ainda mais antigo do que seus próprios elementos. É como se eles tivessem encontrado o denominador comum, a musicalidade afro do continente americano, em estado pré-lapidar.



As críticas puristas são uma constante entre tais movimentos que popularizam entonações de práticas religiosas, levando estas composições à condição de um produto como outro qualquer. O argumento comum é que a música, dissociada de seu princípio fundamental, o rito, não possui sentido, por isso não tem razão de ser. Sem falar em brados sobre banalização, heresia, apropriação indevida.
O fato é que a propagação das músicas étnicas, ou mesmo hinos ritualísticos entre o público externo a sua crença ou ao contexto religioso, quando executados de forma apropriada, óbvio, pode vir a favorecer e popularizar as práticas religiosas de origem. A música como um culto particular é o fator mais pontual desta justificativa. Ou seja, a universalidade que a linguagem musical possui eleva esta arte como o principal baluarte ideológico de qualquer costume, crença, atitude, postura, etc.
O rock é um grande exemplo desta força. O ritmo ajudou a exportar para o mundo todo um estilo de pensar e agir de um povo, em detrimento de costumes tradicionais de outros, ou de uma nova convivência harmônica que aos poucos se tornou irremediável.
O enfraquecimento da crença, a queda dos mitos e um abismo metafísico vivido pela nossa geração são capazes de subverter todos os paradigmas e postulados, deixando vivo somente um aspecto essencial: a celebração estética. Se o povo gostar, pronto. Fodeu-se! Não tem mais jeito. Não precisa ser vendido, não precisa ser comercializado, não é necessário nem ir até as prateleiras, o consumo massivo se dá ao esforço de um clique, numa confortável poltrona. Nenhum dogma resiste a força instantânea da nova ordem e os nossos sagrados rituais estão por aí, a venda, ou no livre comércio das comunidades virtuais.
Exaltar a negatividade deste fato é deixar passar o lado sedutor e produtivo que esta situação nos expõe. Se um dia foram necessárias cruzadas, catequizações, evangelizações, hoje em dia as estratégias são outras. A questão é que negar o processo, ou tentar frear a explosão já florescida é perder um tempo precioso. Devemos dar conta de levar o fundo, junto com a superfície, ou celebrar este tempo onde o ritual sincrético é a chave para entender nossa colocação absurda nesse mundo caótico. Convivência e harmonia, acima de pressupostos, de visões antecipadas e conceitos fundamentais, relativizar os gostos musicais, amenizar os fanatismos, propagar os ritos com suas peças fundamentais: a celebração do homem e sua natureza em profunda convulsão.

Jai Uttal
Daniel Namkhay
Konono

sexta-feira, 28 de março de 2008

risco de sal


Quantas realidades encerram meu pensamento.
Trancado na caixa craniana
o ar vaza destemperado pela pressão
de tudo que se espreme, exprimindo ali dentro.
Esses caminhos elétricos e pneumáticos.

Tantas febres que cuidam e sabem de tudo
e tudo podem saber por um instinto capaz.
Ignorando o espelho por trás do cabelo,
que imita as fagulhas do pensar,
com soluções borbulhantes de caos e desordem.

O paladar mata lento,
enquanto o veneno encontra
tempo para curar.

Estréia

Ensaios cênicos num teatro conhecido. O palco do Auditório Barbosa Lessa, do Centro Cultural Érico Veríssimo. Uma tragicomédia sobre costumes, mas com um camarim sofisticado a la parisiense. Na primeira noite eu estava muito tranqüilo, e decorei o texto pouco antes de apresentá-lo. A peça consistia numa seqüência de histórias um tanto verossímeis e por isso parecia muito simples interpretar aquelas palavras. Éramos muito entrosados em cena também, eu e a Dani, de uma irmandade genética e musical no mundo físico, para uma parceria tão ou mais bem sucedida ainda, numa onírica estréia teatral. Foi um absurdo sucesso, tanto que do susto por tamanha aceitação acordei, dando-me conta daquele sonho tão diferente, absurdamente agradável e belo; mistura de saudade com promessa de futuro tão sublime e desejado. Dormi em seguida, acolchoado naquela sensação macia do mundo nebuloso, este espaço preenchido pela noção de despertar, mas ainda engalfinhado pelos rumores e sabores de Morpheus. Eis que o palco retorna, desta vez um camarim tenso, luzes antes radiantes operam agora foscamente sobre nossas faces pálidas; uma estúpida pressão evade de dentro de nossa própria consciência e nos perdemos em palavras e tentativas de decoro imprestáveis. O texto some de mim, como que tomado por aquele instante anterior de vigília, e foge como um raio preciso para um ponto onde a memória não o encontrará mais. Surge em cena um diretor, minha colega de palco, Dani, minha irmã, tenta me acalmar, palavras de conforto e compreensão tornam minha ineficiência ainda mais vexatória. Absorvo os sentimentos e respiro fundo, o diretor faz contagens regressivas fascistas ao redor de nosso torpor nervoso; ele é uma mistura de um ator do Depósito de Teatro com um novo galãzinho da Globo que desconheço o nome, uma espécie de humorista sem graça, mas com certa fluência... O último sinal ecoa e invadimos o primeiro ato, o combinado é um improviso total. Como se trata de um roteiro sobre costumes contemporâneos, fingimos conversar naturalmente em busca de um sentido, graça ou tragédia. Uma reprodução não ensaiada da vida, uma busca desesperada por nexos ao acaso. Nem no mundo do faz de conta tamanha audácia prospera. Fracasso total! E no meio do abalo, no intervalo para o segundo ato, o diretor entra em cena, calcado em sonambulismos circenses, acrobacias e técnicas da Idade Antiga. Funciona, e fujo um tanto desamparado no meu quase pesadelo artístico. Ninguém me olha ou acode, a ribalta está do lado oposto, fujo por uma porta rumo à realidade, enquanto todos se perguntam quais são os costumes desta nossa época.

quinta-feira, 27 de março de 2008

saudade mar

Sargaço Mar

Quando se for esse fim de som
Doida canção
Que não fui eu que fiz
Verde luz verde cor de arrebentação
Sargaço mar, sargaço ar
Deusa do amor, deusa do mar
Vou me atirar, beber o mar
Alucinar desesperar
Querer morrer para viver com Iemanjá
Iemanjá, odoiá...

Dorival Caymmi (só podia)

quarta-feira, 19 de março de 2008

2 p 2 M

Medidas desmedidas
Medidas desiguais.
Como ouso tentar me entender?
Numa sobrecasaca de ser em
Carcaça impassível.
E o mundo gira a meus pés
E todos os pés giram com o mundo,
Enquanto desaprendo parado.
Basta o girar para andar o tempo.
Macerando lâminas passadas
Permaneço em futuro inexistente.
Horas infinitas para o esquecimento...
Pálida estátua e vida dentro
Move somente impulso e sentimento
Na paralisia serena do jardim.

terça-feira, 11 de março de 2008

No te encantes - Souvlaki



Quando a chuva arrebata o silêncio e preenche o ar com seu cheiro, tempero frescor da sublimação, os olhos, fixos na janela do tempo e da escuridão das nuvens, congelam a imagem, mesmo no mais tórrido verão. Combinações simples carregam o clichê de momentâneas perfeições. Melodias vocais femininas, ruídos de analogias, magnetismos e nostalgias de um tempo não vivido. Pragmatismo comum de muitos eletrônicos de hoje, com a facilidade de compor baseando-se em recortes, gravar amputando a técnica, distribuir composições nos ventos de fibra óptica. Deve ser minha predisposição para cantatas e chororôs do mulherio, o fato deste Soulvlaki soar tão bem.
A origem chilena também aumenta a simpatia, mais uma facilidade de entrar no ouvido e nos instantes distraídos. Atmosferas já vividas antes, como Jesus and the Mary Chain, Solex, Yo la Tengo. E para que tanta novidade, não é mesmo? Vivemos num carrosel, uma brincadeirinha breve chamada vida onde os ciclos são micro e macro o tempo todo. O minimalismo dos barulinhos, os sussuros e os climas de beijo, talvez tudo isso seduza mais do qua a arte, ou a busca por uma surpresa musical. Entregue, deixo o ouvido percorrer sozinho esste traçado circular, reinventando a roda, reaprendendo o sentido de existir. Repetir-se, simples, mas cada vez com mais deleite e sobriedade, não sei se vou pedir pra descer, realmente parece um adeus... em movimento.
www.myspace.com/souvlakimusic

quinta-feira, 6 de março de 2008

moon ment







A fé nos momentos
pode se estender
além dos tempos.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

chicas linguagens

Meus olhos não podem medir tua boca
Porque palavras não pulsam
Nem coração, nem presença...
Para onde os sentidos confluem?
Ao mar
ou
a nascente?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

lumbra y relevo



Corrosivo. A distância tomou conta de tudo, até mesmo da cumplicidade mais fecunda. Aqueles segundinhos alados de cerimônias tão particulares. Não nos surpreendemos mais com nossa relevância, tampouco notamos nossa existência. E assim é a vida se não existir o propósito de contemplar. Tudo pode passar num repente, de repentemente... é óbvio, não nos planejamos assim, não nos sonhamos, é simples. Mas na ordem aleatória dos sentidos e das pulsações precisamos tomar parte, eleger as prioridades de dentro. As de fora se tornam tão banais depois disso; se aglomeram numa fila de espera onde quem dita as regras é o acaso; uma desordem interior que retroalimenta a existência à espera de sentimentos prósperos, gerando ideais conciliadores. Chegamos ao fim da influência, em prol da decência sincera. Nos permitimos uma congruência infinita?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

ida a Zaratustra

Entre tantos lixos cósmicos um momento de torpor transcendental. Retícula, ou segundo de Lua Nova, entre nuvens, entre sais de gelo rarefeito, quase liquefeito, perfeito. Entre nuvem, entre sol, entre galáxia, seja sábia, seja breve, seja saciadora. Não agüentamos mais Fugazi, fajutos, ou verdadeiros, nem Coca-colas, ou Pepsis, enigmas de pirâmides ou Jersey´s new. Pode parecer platônico, pode soar anêmico, total delírio atômico, ou bomba de anti-mercantilismo, anti-colonialismo, anti-bacterindecididismo. Não é causa alguma! Apenas um cansaço de tantas hipérboles cosmopolitas, suas auto-suficiências bem organizadas, esses ideais... Por mais que soe breve, é uma cólica intensa, enrijece os músculos, propaga o estômago para frente, é ânsia! Joguei-me no momento, a ilha que percorreu, talvez, corpo de Buda ou de Cristo, a impermanência, ou a própria consagração do instante. Mas o que fazer com tanto? Ou para tanto? Salvo conduto do homem, o erro, talvez, seja mais importante. Aboliram o espelho do dicionário e os reflexos de todas as águas. Sou, nu e cru, tu.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

tocata

Fujo em desordem de desejos.
À rua, uma noite, mais outra...
ainda sempre na ânsia de te encontrar
ou me encontrar...
encontrar o que?
Esqueci a jarra enchendo na pia
Tão repentina transbordou que
Nado no apartamento!
Nada no apartamento.
Enxugo água
e enxugo tantos sentimentos
de tantos, ou todos os tempos.
Só assim parecem mais possíveis.
Só assim os sentidos colam nos delírios
E reinvento a vida ao dissabor das boas medidas.
As exatas.
Secaram todos os excessos
e ainda te espero
vestida com meu casaco
metáfora do meu corpo te envolvendo.
Porque a pele não exala mais essa fome de bicho,
está tudo em seu armário por tempo indefinido.
Ácaros, traças, vinhos escondidos
celebram minha libido.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

en tre linhas

Posso substituir as aspas
Para destacar teu texto
Ler, com todo respeito,
O indecente beijo dado
À meia-noite
Noite e meia adentro.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ser. naturalmente.



Uma laranjeira sem flores ou laranjas. Eu querendo desesperadamente um chá ou suco a plenas cinco horas da tarde. Tarde agradabilíssima de deleite, leitura, violinos e pássaros num bosque em frente a serra do mar. Tempo inerte de sobra para filosofar, retumbar entre pulmões e cedros antigos, refletir na transparência do gramado tranqüilo.
O texto da revista traduz o gênio de nossa raça contemporânea. Ter filhos já não é um ato natural. As necessidades tempo do homem, as balbúrdias em que nos metemos por hábito e obrigação desabilitaram o fator “continuação” da naturalidade de nosso ser. Dar seqüência à espécie parece mais um desafio para corajosos destemidos dispostos e grandes empreendedores do que uma simples tarefa realizável.
Preparativos, equipamentos, altos custos, riscos, investimentos, contaminações, más influências, discriminações, assessórios, educação, preparação, bactérias, ácaros, síndromes, fomes, choros, drogas, amigos, pedidos, desejos, descobertas, transformações, sentimentos, perdas, ausências, presenças, desligamentos...
Há tanta racionalidade sobre o ato de dar frutos que penso nas flores. O mais descabido disso tudo é que um impulso cega quando nos deparamos com esse futuro; um ser reflexo de nós sugere uma grandiosidade tão imensa ao milagre de viver que o único adjetivo capaz de traduzir a sensação é bobice.
Não sei se o nome desta estupidez leve invadindo nossa razão é amor, fé, ou destino; pode ser mesmo a manifestação desta natureza tão extinta hoje, essa sobriedade de tudo ao nosso redor, mas que nos falta tanto nas medidas mais simples. O homem, como um artífice de si e de seu ambiente se reconduz ao contato mais primordial quando examina aquele papelzinho do laboratório.
A seqüência de letras P-O-S-I-T-I-V-O remete a uma outra série de eventos; essas mesmas rotinas citadas acima, uma insegurança gritante, uma incapacidade de manter as pernas firmes, mas tudo compensado por uma moleza bem no centro do peito, um conforto macio e enigmático. Devo desvendá-lo aos poucos, mas por mais absurdo que possa parecer parece uma etérea certeza de que meu chá está a caminho, mesmo que esta laranjeira aqui em cima esteja sem flores e sem frutos; e toda sua seiva, folhas, caule sejam suficientes para a sombra, para inspiração de poetas, para a composição de belíssimas paisagens. Ainda assim, nossos filhos reclamam sua vitamina C e preciso de um chá para acalmar essa angústia da perpetuação. Quais serão os dilemas das laranjas para se tornar laranjeiras, ou de suas flores para cobrir o mundo de perfume e sabores tão essenciais?
Abelhas, polens, chuva, sol, adubo, húmus, acidez, PH, condensação, sublimação, direção e força de ventos, moto-serra, gado leiteiro, ácaros, secas...
A complexidade do simples é ter que encher o peito de ar,
A simplicidade do complexo é respirar todo momento involuntariamente.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

"contos contam contos"



_______________________________________________

Estava pronto a nascer, percebia luz e cheiros com os fracos sentidos que me compunham. Uma forte ânsia expelia meu corpo daquela concha perfeita. Mas mamãe fez-me esperar mais oito dias. Desaprendi a voar.
Por excelência acendia charutos para meu avô aos sete anos e nadava 1500 metros de um só fôlego. Podia ser considerado feliz, estudioso, sadio e irrequieto com aquele tempo onde as navalhas ainda afinavam os rostos largos de uma família bonachona.
Tinha um amigo, que valha a pena narrar, só um, afinal, poucos hoje têm paciência de percorrer tortuosas linhas até descobrirem sozinhos meadas satisfatórias. Genialidade é artigo de quinta! Não precisamos mais. Separava-nos um rio de Prata, uma irrelevante diferença de idade e certas percepções contraditórias típicas dos quase dez anos.
Pois o gaúcho escrevia certos dilemas em forma de redação que me espantavam sobremaneira. Tinha astúcias e capacidades de corpo, mas transcritas em frases. Como se gingasse entre os fonemas ou os sentidos mesmo, criando jogos vezes absurdos, vezes extasiantes lá dentro do raciocínio. Fazia sinapses bailarem num ritmo de alguma substância boa, adrenalina, serotonina, sabe-se lá. Eu adorava ler o que escrevia e ele adorava escrever o que eu lia.
Compartilhávamos um jogo, e como meu vocabulário tinha profundas deficiências me especializei nos cortes físicos. Nadar, pandorga e aquela sapata. Do lado de lá do rio chamavam Jogo da Amarelinha. Aqueles quadrados numéricos onde a pedra vai delimitando o caminho com o objetivo de passar por todos números até o Céu; mistura cansativa de boa pontaria, coordenação motora, preparo físico, sorte, essencialmente, e muita prática. As velhas metáforas da vida em forma de passatempo metabólico de crianças hiperativas ineficientes...
Meu amigo nunca chegara ao céu. Nos dois anos que passamos juntos, freqüentando lugares comuns: bosques, buracos de fechaduras, armários madrigais ou campos de milho e araucárias, nunca conseguiu tocar o céu com seu pé 42, aos 12 anos. Porque aos 18, descobri mais tarde, já calçava 46; não tinha sapato na face da terra capaz de acomodar aquele polegar imenso. É. Um pouco deformado pelas insistentes tentativas da amarelinha e mais uma teimosia de sua mãe em aproveitar os calçados de um ano para o outro.
Sofria de doença rara, um gigantismo físico, mas que se transpôs para a alma também. E foi uma ave que cresceu sem parar, tentando alçar vôo, mas com um pesar sempre mais incrustado sobre as penas e os pensamentos.
Poderia não ser um grande escritor sobrevoando os horizontes universais das literaturas fáceis. Mas era um gigante, em todas suas proporções, com a leveza da palavra de fio concebido para o corte mais profundo.
Julio Oliveira morreu no mês do Vento Norte. Até crimes hediondos têm penas reduzidas nesta época, dizem que tais sopros induzem a insanidade. Melhor assim, deve ter vagado menos pelo limbo terreno, tendo alcançado, desta vez sim, um céu verdadeiro.
Naquele mesmo outono surgiram alguns brotos em mim. Aos quase setenta anos a tarefa é esquecer paulatinamente tudo que prometemos nunca fazer um dia. Justo porque tudo se dá, eficientemente, ao contrário daquele desdém. As genialidades, as idéias revolucionárias, jeitos diferentes de agir e pensar, acabam se tornando mais úteis às nossas páginas romanescas, a estes folhetins aguados de hoje. Escrevemos sem tinta, sem volúpia, sem o ranger áspero das datilógrafas. Somos macios, certeiros, construímos o texto, à maneira que o visualizamos pintando a tela. Substituímos, colamos, refazemos frases; e as possibilidades são infinitas e as combinações são testadas em execução.
É uma vida mais limítrofe. Realizar testando, aprovar fazendo.
A saudade que sinto do Julio é como da sanidade. Aqueles dias criança sonho entre pessegueiros e aroeiras matando formigas, passarinhos e infelizes. Não pelo fato da recordação, da saudade, melancolia rasgando o peito, mas porque hoje enlouqueço lentamente, em espasmos descontínuos, mas num paradoxo de sanidade absurda ao tudo sorver e narrar. Não passo de um personagem Cortázar.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

desdito impopular

loucos são os ocos.

p (o) e (m) n a

Estava testando o caderno
quando a caneta pifou.
Saber se foi erro de cálculo
ou bravata de Tupã.
Sim, era vermelho
e...
de pau-brasil.