quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

dentro do mar
enquanto estou
tudo está
aqui e lá
no mesmo
em outro
lugar

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

lamento do asfalto

quem dera amar
o amor que valhe meu bem
apostaria tudo
vida ganhei ao relento
mas desritmado é o meu violão
o peito a tampa a caixa
retumba só o teu som

minha madeira preces faz pra rachar
abrir-se como aquele mar
vermelho é o teu rosto
emana um dia a mais bonito
entendo que te amar
é estar sem se notar
onde me escondi?
quem sabe procurar as chaves
não me deixe entrar
para não dar a chance a quem foge
onde é meu lugar?
essa cegueira é como o bem-estar

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

não adianta pedir
p'ruma estrela cair
afaste-se.
sempre espero noites mais sublimes
de dias sem cataclismos.
tenho um alcoolismo autoritário
muleta do inconformado
que nunca soube transgredir

não que não tenha tentado
o fiz (ou pensei que tivesse feito)
mas sempre nas ocasiões inóspitas

bons discursos para poucos
iconoclastia preza na garganta
vontade sempre maior que a estratégia

não basta querer para mudar um mundo
nada muda pela mão do absurdo
e esse é o conflito em que cai tudo

do que vale negar a razão se só temos ela?
o sensível só tem me desorientado
a quem eu impressiono
enquanto me decepciono?
um clic
é sempre
distância
incomensurável
(Albert Eistein)
me
inquieta
e amedronta
outra musa inspiradora

mesmo quando
desisti das notas
dos pincéis
dos romances
dos átomos
tenho o coração volátil

chove

entre lua
ou meteoros

e em estado sublime
me arrependo loucamente
de amar profundamente
esse estágio adolescente
do ser
esse fôlego duplo
que nunca me levou a nada
sequer fez alçar coragem como um Oz

mas deve ser mágico
deve por dever ser
senão já não teria honra
já não seria justo
estaria entregue

a alegria nunca se convence
de sua fecundidade
que prospera sobre a dor
da impertinência

estou certo de que tantas musas
nunca me viram
por isso não esqueceram
que poderiam (ou podem)
deslumbrar um aglomerado de células inebriadas
a tecer tapetes ou bonecos de neve
mesmo que não existam invernos ou calçadas a pisar

esse é o mistério do meteoro e do luar

domingo, 11 de dezembro de 2011

o que tenho de político
além de
perdoar a lua cheia?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o que penso
do progresso
enquanto sorrio
aos meus filhos
sonhos anômalos de futuro
e dito novidades aos mais jovens
como transes rarefeitos
de uma cabeça bem aparada

mas como pura aparência
que representa
perdida na própria eficiência
vaga irresponsável
tomando lugar dos mais úteis
dos indicados
dos fenomenológicos
revigorando o traçado
pré-colombiano
da cosmovisão do desastre

sem qualidade
sem sono
inapto
mas nos lugares
donde exigem-se respostas
rápidas
trêmulas
tenazes
mesmo, ou exatamente pela
improdutividade,
eclodem abundantes
retomando o ciclo
futuro-presente
"desenvolvimento"

- prazer papai
descobriram a cura
do câncer
mas não
do cancro
nem do beijo
(de traição?
seria verdadeiro)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

enquanto o prazo
direcionava a vida
a falta de tempo (ou o tempo)
trazia a tempestade
até a janela linda
envidraçada
onde
como balas
chuva tracejava
nas teclas imprecisas
dedos suavam
errando os erres
na súbita escuridão
do céu

estala o relâmpago
perde-se tudo
aqui jaz o capítulo
e a energia
entre o breu e o quarto
ouve-se um crecs
seu filho sorri com os olhos
enquanto masca chupeta
e filosofa
perde-se nada

domingo, 27 de novembro de 2011

eu olho o céu
é o passado
e abençoa
em giro novo
fonte especial
de contemplação
calados olhos
vejo com a pele.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

esse pouco caso
que não se renova
adia a morte
e espalha
essa mortalha
empestada
que nos avisa
sobre as coisas
mais simples
da vida

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

componho o tempo todo
a vida que integra o sonho
musicado retorna
e já não sei o que não vivi

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

ganhar tempo
entre amigos
e envelhecer
gratuitamente
pelo simples
fato de lembrar
de quantas boas horas
se fizeram rugas
sabores e feridas.
tantos eus que deixamos
pelo caminho
que já não nos pertencemos...

sábado, 5 de novembro de 2011

desde que sou pai
revivo
dia a dia
minuto a minuto
a efemeridade
de ser filho
e questiono
pergunto
ensejo
como criança mesmo
se a lógica não estaria errada
já que só hoje
deixei de crer
na experiência
como passo dado
apreensível
como herança
exógena
certa vez
um balão desses
de aniversário de criança
matou um cara
ele era cardíaco
mas não sabia
como muitos por aí
não o sabem
e no conforto de seu apartamento
assistia Hitchcock
não sei se Festim Diabólico
Um corpo que cai
Pássaros, talvez
em momento de clímax
ouviu um estranho estampido
vindo da lavanderia
para lá rumou,
pouco antes do desfecho
e ao abrir a porta
aquele ar,
deslocado pelo movimento
movimentou um velho balão preto
que ali restava
da recente festa
aniversário do sobrinho
o vulto
que parecia um corvo
ou um assassino
pronto ao bote
subiu com o deslocamento
veio a altura do rosto
e foi a derradeira imagem
que o homem viu
embriagado de Hitchcock
no coração
e abatido
pela falsa
nuvem preta
do cadafalso
tocou o chão
pouco antes
que o balão

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

aquelas coisas
de morrer a
cada vez.
lembrei muito por acaso, idos de 1997, quando fui até o Garagem Hermética tentar marcar um show. Entreguei a fita demo aos proprietários, que na semana seguinte juraram desconhecer esse fato, sendo que eu via a fita ao fundo, atrás do balcão, certamente com alguma regravação. Tudo motivado por uma súbita percepção de que tínhamos qualidade, sobretudo após presenciar um show de bandas referência da cidade, Porto Alegre, entre elas Walverdes e Space Rave, que num show tributo ao Pixies, cantavam num sonoro enrolês, enquanto nós, suburbanos Urubus Brancos de Esteio, tínhamos certas qualidades, como tocar com sensibilidade, técnica e recriação, música de Pixies e tantas outras (inclusive nossas composições) cantando um bom inglês fluente. Era uma questão de respeito, embora isso não fizesse qualquer diferença, não é?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

um cão mijou sobre minha sombra
naquela praça em 1994
eu já estava noutro século
quando
repentinamente
o senti
era urina
e era eu
sem postura
hipnotizado pela música
ao sonhar com um universo adulto
fosse o sol
de outro ângulo
e tudo seria tão
absurdamente

igual
o que mais pode-se dizer
para preencher as linhas de uma vida digital
que não uma visão
abstrata e repleta de medos
repulsas e relevâncias sociais
a fim de completar
um bom almanaque
de passagem
por aqui ou por Marte
para poder vivenciar
de bem
um bom estado de araque

uma íntima distância
daquilo tudo que faz falta
para o prazer
dignamente
repleto de
raridade




e acaso?
(enquanto
desaprendo a ler
você me (des) creve (pe)
resta todo
sangue
daqueles professores
de ontem
que hoje
são genoma
dessas tiranias
e experiências
entre os abismos
e os pertencimentos
do conhecer

sábado, 29 de outubro de 2011

por que gritos
de revolução
se não sei
ao certo
o nome da rua?
sempre que a neblina se instala
aqui no 6º andar
procuro a pomba
de farol acesso
e olhos claros
que prometeu
bodas, louros,
fim do azar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quem ousaria mexer
com um homem
mijando na rua
numa calçada
esburacada
no centro da cidade velha
que já fede a iodo e urina
quem ousaria mexer
com um homem
mijando na rua
já que isso
não faz diferença
alguma
quem ousaria?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

e se
casualmente
nos encontrássemos
e depois de dois filhos
alguns desmaios
pânicos, idas e desejos
felicidade abstrata
felicidade concreta
um par de um ou bons planos
lealdade, vida comum, afeição
nos deparássemos
como num espelho
um a olhar o outro
entre rugas, marcas d'água
um pouco de cansaço
o exagero do sol
aquelas noites sem dormir
aquelas noites no bar
o cheiro inebriante de um outro
o fatalismo e a ineficiência do ciúme
se nos perguntássemos
como a si (ou a nós) mesmos
sobre amor
o que esse desbotado espelho
nos responderia
com sua boca murcha
e desfalecida
tantos sopros
tantas falências
sobre esse casualmente
acaso forte?
sem fé em escritos
destinos ou nostalgias de quinta
talvez fervêssemos
um pouco mais
nessa bruma rotina
que nos interroga tanto
obrigando, quase sempre,
a, mesmo caquéticos,
permanecer reinventando
nós.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

um sussuro
de segredo
inanimado
combina
com a noite
impertinente
aos sóis
que já não
se vêem
fruto de um céu
que desembocou
amargo
entre
Alfredo Chaves
e Guia Lopes
bons pastores
das atitudes
politicamente
corretas
de um jovem
atleta da
subversão
extemporânea
contemporeira

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

quando um filho meu adoece
me adoece a alma
e flutua sobre impressão ou desejo
de ser (ele e ou junto dele)
um hospedeiro miraculoso
portando receitas milagrosas
a base de puro afeto
fé e exaltação

e mais tarde
ao sorver dessa cura
que tanto nos embriaga
sorrimos feito loucos
brincamos como pequenos felinos
pipocando entre tapetes alérgicos
e pedras glaciais
aproveitando o que
de fato compartilhamos
esse suspiro
um pouco adiado
de fúnebre
ou de divina
morte

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

de todas as profissões
escolhi a de inquisidor
enquanta achava que era artista
castrando tudo de fonte e de desejo
tentando ser
em ímpeto
sincero

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

l í n g u a m o r t a

desde que moro
no pátio vazio desse teatro
tenho tempo e reflito:
embora tranquilo
bem iluminado
bela vista do humano e do astro
bronze finamente esculpido
esteticamente relevante

apesar de tudo,
não mais me lêem ou interpretam
sou como um Shakespeare
exilado
numa linda e exuberante
estátua de chumbo
que não é,
de longe
minha melhor tradução
uma forma que sorri
embeleza
e dá forma
ao paisagismo do pátio,
mas cujas letras,
obras,
permanências
e ousadias
jazem tortas
nas cabeças
enuveadas
dos meus filhos de sangue
e de palco

sábado, 15 de outubro de 2011

sempre que ergo
um canto franco de protesto
lembro o quão frágil e fútil
é o manifesto
da alma arrependida
pelo que não pode ser
ou o que não é ainda
embora teime
em fenecer
na tragédia
oblíqua
dos merecimentos
observo o filho lindo
e admiro:
o que é meu ali dentro?
nada
tudo
que envolve
é fronteira
indefinidamente...
essa fração pouca
de tempo
em forma
de espaço
que gozo
sempre em dúvida
se palpável
ou cínica
é arma
e álibi
para festejar
a despedida

já não tenho
cheia
a
algibeira
embora
vestido
alimentado
e lisérgico
o sapo
temia
o pântano
por conhecê-lo
demais
mesmo
com a
visão além
do alcance
fantasmas se multiplicam
em redes
estou descrito
num cosmo absurdo
nuvem ou intempérie
reinam absolutas
as pegadas
daquilo que tentei
desaprender
e que retorna
como fracassos
jogados na cara
como desprezos
do que se é
e do que se foi
em ciclo
a paisagem é
torta ou ideal
e pouco significa
quando já não
sei de onde
partiram as naus
sou fraco
como ontem
mas hoje
não me pescaram
tola
toma
coca

hema
toma
vivo

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

filho em braço esquerdo
teclo em direito
verso tangente
o momento é
tanto mais
do que sua
expressão

terça-feira, 4 de outubro de 2011

saber é vertigem
a minha maneira

sutil

no breu
na Bento
policiais investigam
suspeito
após preleção
só se ouve o vento
que assobia
magoado
pedindo um pouco
de atenção
não adianta
nossa pequena felicidade
sem o carimbo
da Disney
ou de Holywood
não vale nada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

cara
tentei tocar aquele
som
mas a voz não saiu
quando
um gelo senti
entre
estômago e garganta

não consegui
tocar ou aceitar
essa dor.

t e m p e s t a d e

tempestade
um quadro, arte, um ideal
de luto estão
cordas bambas
mataram o violão
quanta euforia

tempo pára quase
se não sobra nada
de pingos de chuva
poças

quem
quando
onde
como
não sabia amar?

essa noite
é de
festa
ou de celebração?
pela vida

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

eu tinha dúvida
quase certeza
de que certo quase culto
a um eu mesmo
um tanto ou mais
inteiro do que o eu
verdadeiro
proviria mais
de uma vontade de
mantê-lo cheio
animado
do que de uma existência
propriamente material

desde que somos um
tento entender
o que penso
fora do teu senso
buscando nesse outro
entremeio
entre eu mesmo
e eu cheio
de nós

acho que existe mais por fé
do que por memória
já não sei se sou mesmo uno
se fui, um dia
pura crença para ter
ao menos
com o que lhe surpreender
nos diferenciar
fugir do espaço
tranquilo e inaudito
do conforto
aquela amizade terna
demais
onde nos conhecemos

permaneço esse
bobo crente
mas desconhecido
a espera do presente
que recrie o
que um dia
(será?)
já tenha sido

se é que...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

meu filho de dois meses
me ensinou algo ontem
não, não foi viver o presente
foi levantar uma sobrancelha só por vez.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

tu desassossega
o meu desassossego sempre
...
tão do mesmo jeito
apago tudo
para ver a Lua

que não existe mais

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

casei por dinheiro
não me pagaram
divorciei por vingaça
e o prato tava quente
reclamei pro garçom
que pagou gorjeta
para que eu, enfim, desaprendesse
um pouco da vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

a poesia acontece
e tento narrá-la em tela branca
quando súbito adentra,
no sétimo andar, o estrondo

o moedor de lixo avisa:
"uma da manhã"
exato instante em que
volto a realidade

de que muito de minha herança
(talvez valiosa parte)
deixa de ser na boca do caminhão
enquanto expurgo teclas.
analiso tudo que inda não sou
no silêncio dos livros
que já não li.
Tento não ser cáustico ao tomar gota e palavra por falta de sono. Mas parece que o humor sempre desafia o verbo a melancolia. Gostaria de contar futilidades sobre fraldas sujas, sorrisos efêmero-eternos, paz interior. De fato, seria indicado cultivar deus sempre assim, na imaterialidade que lhe faz presente, ou na impossibilidade da língua, profusão do gesto. Uma fé que se habilita pelas carícias com o destino ou com o desejo, conforme o rigor do inverno. Seria sensível com o próprio autor, ter a sinceridade como fundo da colheita, ou ao menos, tecê-la reverenciando frutos e não heras. O que motiva nem sempre surge do próprio umbigo, anima o espírito, ou assemelha-se a uma imagem competente. Cresce a mentira, a medida em que descrevo minha verdade, mais docemente. Em detalhes. Porque eles, de fato, não me preenchem, são pura brochura, onde o Barroco já não tem vez. E se valesse a pena, contar segredos e galardões aos que passam desavisados pelo meu mundo, eu seria um pouco menos ou pior, do que o arremedo cego de rima rica que não se quer recitada. É assim, bolsa sem alça, pesada, que despejo aleatoriamente o sentido d'eu mesmo, mas não o que vive e transborda, mas aquele que sobra. Rancoroso na origem, pela carne que deixa de adoecer diariamente, pela felicidade inenarrável que visita este mesmo corpo, fruto da impermanência, ou da dialética (como preferirem os transeuntes).

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pátria

independência é morte.
Não?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

as favas
com
as farpas
arte é neblina
enquanto eu
mantiver
olhos abertos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

um velho átomo
um velho deus
se reconciliam
no cérebro de Freud
em cabeça de Einstein
embora tudo
pareça só design

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

animatéria


ao meio e vivo
na presença
dos amigos

terça-feira, 30 de agosto de 2011

tinha alergia a doença
mas morri de crença
pensa
existe um verme útil que me devora por dentro
embora de utilidade esteja cheio
vomitei-o-o
Existe um novo mundo. Que é cínico e medíocre por dentro. Onde não existem disfarces, a trama é nosso próprio adereço. Longe de selvageria, de disputa, de seleção natural, trata-se de uma rivalidade pensada. Politicamente. E correta. E coerente e coercitiva. Que nos inibe e deturpa pelas entranhas. De repente, assumimos essa cara, mas não é algo imperceptível, ou por engano. Passamos a acreditar e depender dela. Para sermos aceitos no trabalho, nas famílias, nos lugares comuns do cotidiano. Já não nos serviam boas doses antes disso. Tudo é mais fácil por aqui, só pedreiras para quem tenta a sorte dos outros lados. Sim, porque não se trata simplesmente de mão dupla, mas de tanta coisa que tem ficado pra trás assim, nesse caminho. Não são só sonhos de civilização ou música boa e sincera em rodas de rica rima. Mas uma ineficiência, uma preguiça, uma vontade de descompensar de vez em quando. A era é de crescer, mesmo sob o teto de vidro de nosso cérebro limitadíssimo, ou da alta frequência de nossos corações já duros e desgastados. Também, depois de inventar o romantismo, o amor, a pílula e o viagra. Não poderíamos esperar pulsações rudimentares. O avanço é trôpego e cambaleante. E não se trata de uma nostalgia desesperada ou saudade da adolescência; ela sequer foi melhor, ou tão revolucionária como a dos exilados, hoje abastados, políticos nacionais. Não. Existe um mundo bom e mais fácil a nossa volta, mas é inacessível porque temos uma estrada a seguir. Ela passa ao largo de todas essa delícias proibidas. Porque embora tudo seja mais intenso, mais instantâneo, menos sólido, bom mesmo era a surpresa do que estava por vir. O friozinho aquele de não saber porque, nem pra onde... é fato, não temos certeza, mas o agora soa muitas vezes tão ou mais embrutecido do que antes do fogo; tanto mais linear (talvez até por resistência) do que antes da relatividade. (E não estou observando nada, esse texto é pura vontade de garganta engasgada). Temo o novo e o velho mundo, apenas deslumbrado com a força absurda com que me assoma o presente. Ele sorri, tem dentes brilhantes e me cedeu seu lugar num bondinho de Santa Tereza.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Hoje que um momento de solidão é fato raro pra mim, entendo porque nunca quis estudar música. Aqui, no alto da montanha, entre neblina densa, lua, violão, nostalgias soam como lampejos. Entendo daqueles primeiros dias, entre 12 e 13 anos, certa ânsia estranha. Sempre desaprendendo notas, sempre esquecendo os ditados e solfejos. Por fim, quando desisti definitivamente das aulas, descobri o que era liberdade. Sim. Liberdade. A mesma que encontro hoje com um baixo em ré e tantas ou todas as cordas e notas prontas acima e abaixo. Prontas ao toque, em suas desconhecidas casa. Despertas, excitadas, vibrando, esperando, um pouco de euforia madrugada adentro. Não sei explicar como esse toco, feito de tensão, nylon e aço, me faz voar tão longe, quando o desperto de seu sono melancólico (de dentro da capa em vias de mofo). Só vejo hoje a liberdade de ontem, ou sou tão grato e feliz hoje por essa possibilidade de ignorância. Sim, de ignorância e inocência neste trato. Nos permitimos assim e sento livre aqui, nestes poucos e raros momentos de solitude, sem pensar em nada, mas intuindo, flanando entre ritmos, dissonâncias, trastejados; um pedido de licença entre a formalidade do universo que emana em monotom de SI. Maior.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

durmo pouco
como errado
e penso por impulso
e por espasmo
sangro toda vez que encontro o mar.

...não sou aquele homem que devia ser...
sou
apenas.

sábado, 20 de agosto de 2011

música, poesia, cinema, literatura, plástica, cênica, ciência, amor...

hoje, só discurso...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ganguerage



"Racionais capítulo 4, versículo 3"

® Todos os direitos reservados

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

depois de tantas tempestades virtuais
o que restou para arquitetar
nossas personalidades
artesanalmente?
colando brancura, feiúra
e um livro de fato lido
num all star velho de guerra
com sincero samba em violão rouco.


(distante e esterilizado, tudo é pouco)
exílio em bits
e pouco sintonia
o que sou quando
descolo essa
personalidade
"preenche lacunas"

frases feitas
de caderno
e tentativas
de conexão
só desorientam
minha insone
mania de calor
e de verdade.
proximidade
sangue.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

do pouco que tenho
o medo me toma a metade.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

tento decorar o som do vento da serra
ou o silêncio rarefeito das sombras
as nuvens mais próximas, madrugadas mais densas
tento não padecer da distância dos amigos
confesso que sigo, que sigo tentando

não morrer de fome de baixos e guitarras
digerindo toadas de viola a unhas curtas
debaixo de uma casca estilhaçada de pai bobo
dividido entre o que sou e o que venho me tornando
(conforme a seleção natural ganha vida em meus genes)

e quando absorvo tanto ar e tão puro entre as parreiras
me enveneno de uma simplicidade que não conhecia
fruto de meu raciocínio (desde pequeno) afeito e adicto ao dióxido
de meu esteio

acho que a eletricidade procura caminhos e alternativas
quando as rotas da memória cansam das reminiscências
e flertam com o estômago e as veias mais encardidas
apelando para gotas encrustadas de um sangue mais sujo
do que aquele com o qual nos vangloriamos
ante ao banquete quase soberbo do herói
perante a morte iminente (de mais um servo)

e conforme caminhamos, trôpegos mesmo,
por não crer mais na ineficiência como única ciência
somos só o grandioso e gentil fracasso
que gostaríamos de ter sido
encurvados sobre tantas perspectivas que nos reservara a vida
satisfeitos por tudo que deixamos de fazer
pela simples falta de percepção e fúria cega
quando só o que tínhamos era uma paz
tão absoluta, que não combinaria com nenhuma boa
moda ou postura de época

uma paz tingida de claras
já engomada e azeda ao sol
de uma felicidade pretensão
ou vida adiada proscrita
reescrita no verso da pele
por decifrar.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

enquanto planto
gota e semente
em úmido ventre
terreno
sonho com os anjos
acariciando minha face
num prado frondoso
e bem iluminado
onde estas pequenices
tão imensas
como música e
sorrisos de amor
alimentam
para além da alma
inanimada.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

lá onde o sonho é irreal
eu tive um filho
a pensar por ele
enquanto, de forma imatura
ainda à matriz terrena pertencia,
pude ver com quase nitidez
tantos cordões
fibrosos, sanguíneos, hepáticos
irrompendo ou ajustando seu sobrevôo,
assim como o meu, já restrito.

em solo fértil jaz
sua placenta putrefeita
como adubo
a um sorriso de abutre
último alimento livre
de mágoa e de ira,
de comiseração e de dívida.

agora paga pela carne recebida
em perfeito estado,
mas em mão única
eterno retorno
ao coeficiente inexato
do humano
entre o erro e o pecado.
sempre que o mar
se aproxima
já tenho a resposta.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

me sensibiliza o fracasso
quando injustiçado
quando inquieto e insatisfeito...
silenciosamente antagônico
ao sucesso útil
da falsa prosperidade
das histórias da arte.

domingo, 17 de julho de 2011

num Olimpo distinto
eu era eu
e deus era deus
antes do espelho
das águas.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

cheguei
abri uma cerveja
mergulhado no
cotidiano particular
dos sem coração
voltei a escrever.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

neve derreteu
antes d'eu preparar
espírito para vê-la
e água,
já não me surpreende
apesar de
toda essência

sexta-feira, 24 de junho de 2011

a neblina soa
como acalanto
em tarde fria

com o olhar
escuto a melodia
gelar alma

ontem geou
amanhã neva
hoje, conforto

sábado, 18 de junho de 2011

nada pode ser dito
a não ser
que saudade dos meus amigos!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

quando abro um figo
é o aroma do porão da nona
o gosto de terra e salame
o chão batido gelado
a geada que evapora lenta...

é um livro que leio com a boca
interpretando o passado
no presente inusitado
e adocicado da fruta.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

um sentimento
extrai o sono
é Violeta
que sobrevoa
aquilo que a alma
ainda espera alcançar
embora pareça cansada
de tanto sonhar
com as esperanças
etéreas de um lugar
onde música e vida
se fundem...
se permitem brisa e mar.
Não.
inda não é aqui
no meu peito
que vive
um homem melhor
do que o de ontem.
sou o mesmo
parado e perdido.
com a razão,
mas sensível
porque puro de coração.
embora lento de raciocínio
e trôpego
graças ao falso
estado de calamidade
da arte pela arte.

pinto sem as mãos
com as pálpebras no chão
aquilo que
dentro de mim
resistiu ao pop



corn
quando
e se
nós somos um
por que
eu te
autodestruo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

não fui bom no que fiz
fui bom só no que fui.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

antes da lua
tem uma órbita
e antes da órbita
uma atmosfera
e dentro dela, ar
e tóxicos, verbos e refrões
e antes do oxigênio tem vidro
colado nele uma grade
aí vem a cortina,
mas antes o sensor do alarme
que me toca
junto da tela de proteção
é ela que evita que eu pule
me desmanche no chão
ou tenha dó dos pássaros
porque voam, mas não sem coração
como os aviões e os planetas
velozes, robustos
do outro lado desse cinza anêmico
que me habilita a viver
cara-metade do mundo cruel como só
como só ele sabe ser
em disfarce
disfarçado
disfarçado de cárcere
em disfarce
disfarçado de quase
e de bom
reconto a minha lenda
num quarto de criança
bem arrumado.

enquanto um dorme
outro sonha com o passado...
mas não é mais mera nostalgia

é um retorno, mas com uma dúvida sincera:
será que isso tudo, de fato, aconteceu?
eu vivi? ou hoje é o começo?

no sorriso embranquecido
no ronco de estrondo macio
ecoam margens de um vida que parecia tão vivaz.

até ontem. quando reencontrei meu brinquedo
perdido em noite de chuva
na boca do bicho papão.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

m a n c h e t e

o acidente foi muito grave
ele viu a morte de perto
mas (não adianta)
não corre risco de viver!
tenho saudade
do último instante
quando o que eu tinha
de mais sincero
se foi
com o segundo perdido
irremediável
como a febre que
agora me consome
por não saber
reviver o suspiro
que nunca foi meu
sim do tempo
que o concebeu.
nos tempos de pseudo-famoso
e pseudo-feliz
tive uma pseudo-crença
de que tudo era assim mesmo
pseudomaticamente
perfeito
como Nicole e Pitt
(ah não Cruizes!).
Na verdade, enquanto
a verdade não existia
eu acreditava nela
tanto quanto em mim
perseguindo sua sombra
e meu rabo.
Mero sintoma de um
estado febril de
pré-natal.
e se já não rio como outrora
ao menos sei o real nome
das estrelas
(só as de Holywood, astronomia,
definitivamente, não é comigo).
nada de novo trago a lhe propor
desejo, solitude, afã, amor
mistério, riqueza, seja lá o que for

só ofereço solidão imaculada
que com carícia não se cura
com boa palavra não se cala

a efêmera presença, átomo frio no peito
hidrogênio, oxigênio rarefeito que aquece
ou finge que aquece aquele que ousa

lhe aceitar assim, sem a chama de verões
ou de lugares comuns, sem maiores anseios
do que aqueles de gelo sob incandescente sol
felizes e impuros com a sublimação.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

minha cultura é da dúvida
por isso jogo uma bola
que nunca entra em órbita
sempre terrena em terreno baldio.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

g r a v i d a d e

vôo
ao pesar das asas
vôo
apesar das asas
vôo
a pesar as asas





peso

terça-feira, 31 de maio de 2011

toda vez que tentei aprender karatê
o vento foi muito pesado e me derrubou
e sempre disseram ter sido culpa do homem
o homem que, ao vento, não se curvou.

terça-feira, 24 de maio de 2011

com o pouco silêncio
que habita a cidade
emudeço o coração

embora soe falso
o ruído de minhas preces
pulsa calado ladeira abaixo

uma névoa se aproxima
novos tempos, talvez?
mais provável que seja

o bom e velho caminhão do lixo.
afinal, quem o recolheria
ao fim deste soneto falso?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

vendi meu sorriso
por um dó falso
agora não disfarço mais
a boca banguela
em canto desafinado.

domingo, 22 de maio de 2011

quero te seguir
assim como tudo que pensa aqui dentro
enzimas e células proteicas
inteligência que te pertence.
em detrimento de um cérebro só
ferormônios fazem verão.
toda vez que morro
percebo a tua voz
e ela antecede o desastre
como o sopro saudoso
que sou quando já não mais.
sem as palavras
sinto mais perto dos astros
mas a linha epígrafe
combina melhor
com o mármore
e o vermelho da sala:

"era de afeto e não se sabia".
um plano
entre dois lábios
e o acaso
virou boca fechada.

sábado, 21 de maio de 2011

auto organização
tratados de convivência.
muitas vezes desconheço
o que prende e aproxima
de toda vida
de tudo que importa e é vital.
anestesia e ruptura.
e vivo quase desfalecido
sem saber o que move
esse ou aquele traço
o que provoca essa ou aquela fome.
tenho angústias e sono em meus braços
e apesar de sentir-me amado
e rodeado de muito mais do que mereço
exerço um falso egoísmo
uma falsa satisfação comigo mesmo
sem perceber as regras
que fazem da vida
um carrossel inanimado
quase perfeito
de tão roto.

domingo, 15 de maio de 2011

eu, que nasci a três minutos
tu, prestes a morrer
quem está mais perto da morte?
qual merece viver?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

o velhinho e o recém-nascido
esperam o ônibus
defronte a Praça Dante.
assistem a um assalto,
a pseudo-arte de rua,
a uma liquidação da Barriga Verde,
a um coletivo onde se acotovelam operários.

Já não sei qual dos dois está
mais próximo da vida.
neblina e noite
indefinidamente.

terça-feira, 10 de maio de 2011

teu olho

vida em intensidade
coragem em abundância
resta saber:
pra onde?

domingo, 8 de maio de 2011

poema
câncer
sangre
entre
lábios
pernas
teorias
de caos
e boa morte

sobrevivemos
por teimosia
piores
e mais
fortes
quase
eternos
se não
fosse
a ecosorte
a despedir-nos
em favor
das bactérias

quarta-feira, 4 de maio de 2011

b ú s s o l a


todos descaminhos levam a Roma.

(com o bolso cheio de pedras
absorvemos o ar rarefeito
da exuberância ocidental
não existem fotografias
filmagens não são permitidas
nossos souvenirs são ruínas
que pesam a medida em que alçamos vôo
até a mácula selvagem de nossa terra
aqui onde a fortuna dos bichos
é serem homens sob a pele de búfalos
ou cernes sob carapaça malemolente
onde rumar contra a corrente
não é aceito, porque tudo é Norte
sim, tudo é Norte indefinidamente...)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Vislumbro a magia dos astros
enquanto piso em terra seca
e tropeço nos cadarços.
o mais difícil é ser humano
tendo a carne corroída
pela humanidade.
que em nada imita
o Olimpo criado em
reflexo ao selvagem.
é,
simplesmente,
amparada pelos desejos
recôndidos e incipientes
da carne nascente
pensante e fadada ao crime
tanto quanto ao amor;
mas em medidas sempre ferinas
quando trata de um
amargo, sem sal
e despreparado
bom coração.
(que em nada imita o humano)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

as turbulências me conformam
enquanto plano absoluto
sobre os milagres diários.
o violão resta calado.
sua corda rebentada
enforca um gato
no fundo da sala.
música de mundo cão.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

abstenção



o abismo nunca é suficiente ao pulo
e também o salto quase nunca é digno do tombo
talvez porque o assombro é sempre maior
com a fragilidade ou a paralisia
em movimento os reparos são possíveis
onde o presente é a ruína remontada do passado
numa planta fria e calculada de futuro
não nos vale o risco
como não nos vale a coragem
porque o sorriso
a vertigem a verdade e o ódio
são sempre vindouros
fogem desbaratinados do ato
preservar o pouco de espontâneo
muito menor do que legítimo
é o sonho em madrugadas fúnebres
mesmo que isso se pareça
com a sombra da fuga da lua
(oxidando cordas de um violão mudo)
rumo a um sol sempre mais eficiente
em mostrar o que só sua luz revela
ao mesmo tempo em que todo o resto esconde...
quem sabe reinventar o branco?
mas muito distante de seu sentido unívoco de paz.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

m i s t y



Se um dia entender
o que a música faz em mim
paro.




até
incompreeder de novo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

encontrei (n)o amor
chumbo perdido.
olha o menino
jogando bola
que alegria que ele tem
sou gente grande
que é que tem isso
eu quero ir jogar também.

Paulinho Nogueira
tenho aquarelas e mágoas
entre flores e uma família sempre incompleta
incompletude como água.
laços, cacos e asperezas
pintam a leveza possível.
ontem ouvi um sonoro grilo
aqui no árido sétimo andar
não acreditei nele
ainda acho que era eu.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

r e l a t i v i d a d

o sol me desfalece
enquanto a lua amanhece
mais uma chance de ser ciclo.

fadado a trigonometria
rabisco existências
lógicas demais
entre o pi cartesiano
e o ritmo constante
do pulso galático

sonhos inumanos
correntes de ar aromáticas
envolvem o significado
das palavras
enquanto jazem inabitadas
de sentido,
verbalizadas pelo rito
inalamos a vida
sem o concreto da visão
sem a poesia do
deslumbramento.

quinta-feira, 31 de março de 2011

que coisa é essa?

... e quando a poesia acontece
alegrando
me entristece.

terça-feira, 29 de março de 2011

s u p e r f í c i e

Quero a vitamina da romã
como já quis em teus cabelos
me enredar

Mas um morango sempre
tão perfeitamente rubro
se intromete

Quando no escuro dos desejos
queremos mergulhar
e nos manchar
e desmanchar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

c o n t r a d i t a d o

atraio e subtraio ao mesmo tempo
amoródio que atormenta
e embala em iguais medidas
nossas vidas nulas.

segunda-feira, 21 de março de 2011

u m s i m p l e s b l o g

o arremedo de vida
poética que eu tenho
vem sendo moído pelos bits.
mesmo diante da maior lua cheia
dos últimos tempos
fiquei restrito aos teclado
ineficientes e inexpressivos
que me olharam sóbrios
e soberanos
sobre a soberba
da palavra exata
calada e morta na boca.
nem o silêncio era reverência
mas pura falta de condições
ao canto, a poesia
ou ao gesto mudo
simplesmente.
migrei para a estratosfesa
do ego digital
que tudo tem absorvido
onde a pureza celibatária
de um possível sentido interior
se torna a masturbação
frenética na busca de
uma paz que é pura
convulsão volátil.

domingo, 20 de março de 2011

o meu medo
é ser humano
para sempre
sempre perguntando
o que é isso
momento
a momento.

segunda-feira, 14 de março de 2011

M a n h a t i h n a m e n t e

Tudo que eu sabia ser
era um arremedo de jazz
numa Nova Iorque imaginada
que me pré-existiu e
ultrapassou como um tempo
que avança e desobedece
leis naturais e materiais,
fruto do assombro da percepção
do homem pelo homem.

sexta-feira, 11 de março de 2011

s í n t e s e

quando puro fragmento
me reúno no canto escuro
d'eu mesmo
um lugar inventado
pelos monstros.

d e p a s s e

procuro sentido
para tamanhho trânsito
pela janela do ônibus

à beira da estrada
vislumbro uma capela
memória póstuma
de extinto movimento terreno

será que a alma já chegou?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Embora a curta distância
e o pouco tempo,
me sinto no exílio
tamanha a saudade
de tantos amores
que não tenho visto

chega de reinventar
a relatividade
o peito é quase sempre
a medida exata
para os destemperos
da geografia e do afeto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

f a n t a s m a g o r i a

afastado de um vício que já não tenho
sobrevivo uma vida em que já não creio
me iludo por pena, medo e receio
desvelando no estômago o novelo
de seda (com o bicho dentro)
prato perfeito para o Camões genérico
que se ama tanto
mas que não chega aos pés
de sua sombra no rio
na verdade, sombra que nem se projeta
tamanha fastasmagoria
sonha, nesse eu literário
Tive medo de outros verões:
1997 quase não cheguei a Imbé;
1995 fui e voltei na mesma noite, antes da virada do ano;
2003 más companhias e energias, Rosa;
e sempre, nesse ínterim,
nevando em Manhatan.

o l h a o c é u

tanta fome deixei de saciar
por pura esperança
que chovessem pedras.
não me serviram

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

por conta do sossego
vendi meu emprego
vendi meu desejo
e comprei passagem só de ida
para o confim
de qualquer lugar
sem sombra

onde o nada
por ser nada
me entristece
e o que sobra
são vestígios
de pegadas
de rastros
nulos
e orientes

orientes
cerebrais
orientes
orientes
orientais
demais
demais
a mais
não poder
demais
até não
poder mais

domingo, 13 de fevereiro de 2011

m e l

o que a melancolia depõe
é a simples saudade
de ser o que não fui
saudade dor pouca
que longe longe
sopra voz grave
quase escuto
quase

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

r e s t o s de c o n t o s

“O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história”.

Walter Benjamin

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

é verão

vôo as voltas
com meu paletó
de picolé

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

sou um laboratório
de sonhos e palavras
que são e que passam
se ficam, apenas para
fazer sentir e desmanchar
impressões de sublime,
de total e absoluta
impermanência
enquanto escrevo
escorro
enquanto o prato de batata frita se dilui
a França invade o Irã
o Brasil inventa o Nepal
e o frio cristaliza o sal
enquanto a humanidade é açúcar

mas a desumanidade chove
e chove em mim estátua de sangue.
fugido de Gomorra
adentro Sodoma
cheirando a jasmim
qual é o seu perfume?
o meu.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

t u

o homem algo ordinário algo zen
metade elite fracasso exemplar
médio fadado em tudo
pobre, essencialmente, pobre
rico, em tudo, aparentemente
socialmente aceito, ativo, atuante
sexualmente indisponível, insatisfeito, inoperante

ordinário.
homem.

o máximo que se poderia e que se pode chegar
o tudo
que é também abismo enuveado, ebulição
solo em trabalho, acomodação, erodindo
eu.
atrás do espelho
no inacessível desejo que não vejo
e perseguindo, habitando, está
num corpo lúcido de homem
saúde perfeita de trint'anos
prenúncio...
existe.
é.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

F u i a o C a n t a g a l o

E outra vez era um trabalho.
E outra vez sentei ao lado de Edson depois do tempo passado
a pestanejar e tragar um cachimbo de perspectivas.
Entre tantas pessoas que passaram e nos viram,
restou o mato, cipós, cipestres e capins sulinos,
uma sensação de frio e enjôo,
típico de uma ascendência.
E enfraqueci, acordado na cama,
de volta ao trabalho de dissertar
tudo que é acadêmico
que dispensa
ou repensa
o onírico?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

a menina vende pão e ar
e suspira o verão
do lado de fora da padaria
com certo prejuízo
para as vendas
e a vida

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Fé e desejo são potências opostas?
Discutem Jesus e Freud
numa firme mesa de tronco.

3 1

sem o olho do cajado
desci do morro velho
ano
novo
desalento.
súbito.
uma surra de pássaros
me revoou

derrubado entre galhagens
lá embaixo
soterrado
pelas boas coisas
que diz o tempo
adormeci

deixando passar
todo ciclo
365 dias
sem desejos ou previsões
somente destinos nulos
ao pé de uma montanha
de graças.