quinta-feira, 26 de novembro de 2015

pra chegar a lua cheia, musico em sol. e conversamos noite adentro e fora do tom.
estou ferido e caminho com dificuldade. cultivo sentimentos confusos por necessidade. construo universos sob esperanças falsas. assumidamente falsas. na falta de verdades, celebro beldades. miro o caminho sinuoso da malícia. mas sou preguiça, preguiça e arrogância. ferido, tenho a meus pés a impossibilidade. sadio, me restrinjo a saudade. 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

professor é só o cara assumidamente inacabado à espera da próxima pergunta.
- pai, até que idade somos crianças?
- até os setenta, mais ou menos, depois somos bebês.
não sei se criar uma musa é vontade ou vício de poeta. se é sem-vergonhice ou pieguice. charme, malícia, burrice. criar a musa, quando se está satisfeito, é como cair do leito, quando se tem fome. barriga vazia e sono. criar a musa, talvez, para despir a musa, para torná-la humana, para voltar-se para a lua, para declamar benfazejos, para sentir desejo e veneração, platônicos, melancólicos, inalcançáveis. criar a musa para matá-la, como único espaço para a crueldade, dum coração que é ora aprazível, ora mole, mesmo. ora queixoso, ora presumido. criar a musa para achá-la atirada a uma sarjeta, para saber que é carne tal e qual todas as outras. criar a musa para tornar-se musa, para reconhecer-se na pele fatal, no disfarce anacrônico ou travestido das deusas. criar a musa, somente para o exercício. físico e mental, da virilidade e da ludicidade. criar a musa para criar-se, ou para matá-la, para matá-la sem piedade, para matá-la de gozo e de vontade, ante a verdade, a verdade sem expectativa do real estado de coisas do poeta. a musa é página em branco, quando se crê.
sinto que a lua cheia me espiona
quando ouço sua luz preencher meu ouvido

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

eu produtivo invade o tom da poesia
sugere que musiquemos por relaxamento
como se transcendência fosse possível
quando a náusea alienante do acúmulo
está nos murmúrios e nos pensamentos
no estalar de dor dos ossos
no ranger dos dentes na respiração
musico com lirismo tateando lua e silêncio
uma musa esquecida na poeira dos livros
uma memória desfalecida entre os ombros
mas é como se o peito oco ressoasse
apenas frases sem sentido
palavras soltas monossílabos
grunhidos do energúmeno produtivo
produtivo acumulativo inovativo
preenchido das frustrações errantes
dos que sonham nas mansões
inebriados pela fumaça impermeável
do bom charuto cubano
aceso com o fogo-fátuo
de um dólar chinês-americano
(incendiário)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

linha imaginária divide os hemisférios
tento ser meio entre o eu e o vejo
permaneço enfermo, curado, refeito
como se na unidade me reconhecesse




com a barba por desfazer
e o cabelo a enegrecer
sou velho tolo
que adolesce