quarta-feira, 25 de novembro de 2015

não sei se criar uma musa é vontade ou vício de poeta. se é sem-vergonhice ou pieguice. charme, malícia, burrice. criar a musa, quando se está satisfeito, é como cair do leito, quando se tem fome. barriga vazia e sono. criar a musa, talvez, para despir a musa, para torná-la humana, para voltar-se para a lua, para declamar benfazejos, para sentir desejo e veneração, platônicos, melancólicos, inalcançáveis. criar a musa para matá-la, como único espaço para a crueldade, dum coração que é ora aprazível, ora mole, mesmo. ora queixoso, ora presumido. criar a musa para achá-la atirada a uma sarjeta, para saber que é carne tal e qual todas as outras. criar a musa para tornar-se musa, para reconhecer-se na pele fatal, no disfarce anacrônico ou travestido das deusas. criar a musa, somente para o exercício. físico e mental, da virilidade e da ludicidade. criar a musa para criar-se, ou para matá-la, para matá-la sem piedade, para matá-la de gozo e de vontade, ante a verdade, a verdade sem expectativa do real estado de coisas do poeta. a musa é página em branco, quando se crê.

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