quarta-feira, 23 de novembro de 2016

quanto mais a situação se agrava, do meu ponto de vista, mais eu entendo os opositores, que se negaram a aceitar um modelo de sistema que não acreditavam. é difícil produzir, viver, estar disposto a entregar-se para uma realidade com a qual não nos sentimos parte. a cada dia sinto mais desespero e falta da arte, ou daquela expressão minimamente contestadora e improdutiva que brota e se traduz nas madrugadas. quando há um espaço de contestação estético, fora dos aforismos e demagogias imprecisas dos vocabulários ideológicos que nos enjaulam. pulso, como única alternativa de existência, em ritmo e sentido incompreensível, no desvelo das noites, silêncios possíveis, penumbras.
não inveje-se-injete-se. a inveja é uma m... era. a coma do vizinho é sempre mais cômoda. ao espelho, despenteio-te.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

agradeço muito por tudo que aprendi, fora da escola e da família, com os amigos. o skate, o surf, a coragem de desafiar o equilíbrio. o violão para o fim do domingo ou para quando era preciso improvisar, sob fogueira, falta de luz, luar. o desenho impreciso da caneta bic. as frases soltas que viraram estrofes em caderninhos. o primeiro elogio a uma composição. jogar videogame e saber quais eram os jogos e os caras certos nas locadoras. a vontade de ser diretor de cinema, de fazer filmes, de expressar algo por ali. formas preciosas e matreiras de dar aula ou de recebê-las. amigos me ensinaram tanto! tímidas programações no computador ou passeios loucos de bicicleta. até teimosia, cólera, tesão irreprimível, me ensinaram. a cortejar as meninas e a ir nas festas. ser contido e falar o mínimo possível em caso de desejo muito intenso. fumar, beber, cheirar, respirar a vida como um inexperiente. remar, jogar futebol, basquete, vôlei, detetive, peão, bolita, Scotland Yard. algum me apresentou Funkadelic na madrugada e In a silent way, de manhã. era o jeito certo de ouvir, nunca ouvi diferente. Chet Baker e beijos demorados. praias de Santa Catarina e os atalhos entre a Pinheira e a Guarda do Embaú. evitar o crowd, evitar os bêbados em fim de noite, evitar as brigas previamente perdidas. mas me ensinaram a brigar, também. bati e apanhei muito. ouvir discos esquisitos, revirar balaios de fitas cassete, depois de cd's, de volta ao vinil, o que me ensinariam hoje? aprendi a usar os pedais, delay, distortion e wha-wha foram os eleitos. ser baixista, fazer cara de baixista, ter suingue de regueiro, cabelo com jeito de sujo, embora empestado de Seda Ceramidas. o Rosa, a plataforma, o banks, os bares baratos e os namoricos de ocasião. todas essas e tantas outras lições vivem em mim. a cada ação dessas sou esses amigos, celebro essas vidas aqui dentro. é quase uma certeza imaginar que a grande aventura é saber aprender, humildemente, sem a infantilidade da honra, sem a crueza da teimosia. aprendi muito e sempre. mesmo com os chatos, que não foram poucos. sei o que não dizer, sei como não ser, sei onde não ir para revisitar as rotinas de tempo perdido. para tanto, perder tempo foi imprescindível. mais do que necessário. e tudo que aprendi (e o que não aprendi, como voltar de back e fluir sem medo no skate vertical) são gratuidades. pequeninas homenagens mortas na memória imperfeita daqueles dias juvenis. toda onda e em cada acorde uma voz me ensina, repete aquelas falas, não consigo esquecer. é uma falha de caráter? uma carência? não sei. são tantos que vivem em mim, somente pelo que aprendi desavisadamente é que sou. tantos e hoje, imateriais.