terça-feira, 17 de dezembro de 2013

basquiat

anularia o tempo, munido de um pincel e pouca tinta, corpo e consciência adulta, embalado num bom jazz, desconfigurando natureza ao redor, com prazer indescritível de criança. criança que perdura in pintura

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

tive um amigo que virou quadrinista
via ouvia a vida dum bar de quase esquina
diagonal era a fronteira a transformar em quadro
mas tudo acontecia entre
exatamente onde delineiam-se linhas de quadros e retângulos das cenas
ali escondeu-se a vida ao quadrinista medíocre
assim como eu teve sonhos inspirados, estéticos
dorme comumente afogado na decepção da crença sobre o que observa

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

sempre que eu olho para esse meu perfil memória eletrônica, relembro esse quem não sou, esqueço o que poderia, de fato, ou em ato, vir a ser. sou menos, sou tudo, tenho graça. morro em carne quase sempre, revivo eterno e inanimado até que alguém me encontre na rua, perceba quão sem dotes posso ser, quão simples e bobo, quão ridículo, absurdo, sem sentido. o eu eletrônico tomou conta. acho que são ares de dezembro. um tempo de desligar-se. aquele ciclo capitalista ou astronômico. whatever. demos um google, aí.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

de tão exausto
vomitei o amanhã antecipado
sabor amargo de ontem não vivido.

incêndio no centro

estalos dentro do sonho, passos, muita angústia. acordo de susto perto das três da manhã. seguem os estalos, inquietação; de repente, sirenes. vou até a sala e percebo uma luz alaranjada na parede, ela sibila e é linda. o fogo sempre nos seduz. fico até quase quatro horas acordado assistindo a enorme chama consumir o prédio à distância. tenho curiosidade, mas não é isso que me tira o sono. é a cor alaranjada que sobe, talvez purgando as almas das vítimas que ali carbonizam. a madrugada de segunda deixa de lado o silêncio habitual, há movimento nas ruas, luz nas janelas dos prédios, estamos despertos. dormimos os dias inteiros e acordamos quando o fogo ou a morte nos visitam. chá ou café?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

quando não é um caminhão lixeiro que me tira da cama do sétimo andar, no sétimo sono, para atirar-me ao contêiner animado do consumo metropolitano, é o subgrave de uma saveiro que faz trepidar da janela a cama, passando por meu coração, rins, intestinos e espírito. respiro tonto, em sono profundo, finjo que deleito a vida intrépida da cidade. a noite é criança estúpida e desajustada, eu insone traiçoeiro. com hábitos de saúde, mas à espreita de um instante a mais de inconsequência, ou inconsistência na palavra ou no verbo. a verve deitou-se em prolongado inverno. sem aberturas. sem descobertas. tonta e alheia ao fogo fátuo e seus mistérios pós sonho lúcido.