segunda-feira, 19 de maio de 2014

enquanto a música acalenta meu coração
morre de sede meu manjericão
quase satisfeito pelas revoluções que não realizamos
tava bom demais o som!

domingo, 18 de maio de 2014

tenho saudade. quero rever meus amigos. encontrá-los perdidos como eu numa trilha pouco iluminada. fingir timidamente saber o caminho, mas desatar em riso estérico pela impossibilidade de mentir quando tudo que precisamos é um honesto engano.

terça-feira, 13 de maio de 2014

preciso construir mais presentes pra desencantar tanto passado

sexta-feira, 9 de maio de 2014

hoje, enquanto dedilhava entre a desatenção dos meus meninos pensei além. sobre tudo que sonhamos deixar de herança na terra, uma casa, algum valor moral, educação e presença de espírito, o que significaria algumas dezenas da músicas compostas não publicadas (impublicáveis?)? a síntese musical de minha passagem autoral pelo universo, guardada em fiapos magnéticos degenerados, ou na memória absurda que se esvai agora (quem dirá ao entardecer). o que é isso que me define mas se decompõe invisível sob nossos olhos, em momentos esparsos quando rememoramos tempos áureos ou cálidos que já não nos pertencem? enigmas. vou queimar as fitas.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

perdi parte da audição enquanto ganhava experiência em produzir microfonias em escalas pentatônicas tonais e modais com a cabeça e o baixo enfiados dentro de uma caixa amplificada em volumes suculentos de ruído intermitente.
hoje, após uma noite mal dormida, acordei atrasado. em pé, lavei os olhos com café e corri a parada. o frio espantava o sono. a tempo de bater o ponto, invadi estabanado a primeira reunião do dia com tarefas em atraso, gastrite em altas proporções. o dia passou como um susto, não consegui uma vez mais mandar aquela mensagem sutil de carinho para meu amor, lembrar minha mãe de lembrar meu pai de tomar os remédios (eles têm trabalhado tanto), pesquisar aquele presente retrô para o quarto dos meninos. esqueci até de comer. quase na hora de bater o ponto e ir embora devorei a maçã que levei na bolsa, suja mesmo, acho até que a poeira morre diante de tanto veneno evaporando. saí porta afora meio correndo e segui algumas quadras assim, depois, por conta do olhar de assombro ou reprovação dos pedestres, com muito mais pressa do que eu, mas estranhando minha sinceridade, me dei conta de que o expediente já se fora, que podia respirar. lembrei do último diagnóstico de pressão alta e olhei no relógio da praça a delação do meu atraso. mais uma vez mais de uma hora além do horário combinado com a família. a janta já deve ter esfriado assim como as brincadeiras cansaram de repetir cenas sem um bom vilão (que só eu sei interpretar). evitei encontros ao chegar no saguão do prédio e subi pelas escadas mesmo. oito andares. arrisquei, muitos pais de família despediram-se assim, mas ainda tenho fé nos meus músculos. invadi o apartamento e meu filho correu, ajoelhado abri os braços para apertá-lo e cheirar sua perfeição inacabada. de tão pronto, acho que ele me atravessou, atravessou mesmo como se eu não tivesse matéria ou carne. caiu no chão como se de um tropeço. olhou para mim assustado. não soube responder, apesar da condição de pai exigir uma posição. talvez uma astúcia da natureza para evitar a contaminação do menino, sua infância e abertura. não reagi ou tentei explicar. tratei de brincar de fantasma com a pouca energia disponível.

domingo, 4 de maio de 2014

filho é um bichinho
e tudo que ele sente
(alegria, agonia, pranto)
dói na gente