segunda-feira, 5 de maio de 2014

hoje, após uma noite mal dormida, acordei atrasado. em pé, lavei os olhos com café e corri a parada. o frio espantava o sono. a tempo de bater o ponto, invadi estabanado a primeira reunião do dia com tarefas em atraso, gastrite em altas proporções. o dia passou como um susto, não consegui uma vez mais mandar aquela mensagem sutil de carinho para meu amor, lembrar minha mãe de lembrar meu pai de tomar os remédios (eles têm trabalhado tanto), pesquisar aquele presente retrô para o quarto dos meninos. esqueci até de comer. quase na hora de bater o ponto e ir embora devorei a maçã que levei na bolsa, suja mesmo, acho até que a poeira morre diante de tanto veneno evaporando. saí porta afora meio correndo e segui algumas quadras assim, depois, por conta do olhar de assombro ou reprovação dos pedestres, com muito mais pressa do que eu, mas estranhando minha sinceridade, me dei conta de que o expediente já se fora, que podia respirar. lembrei do último diagnóstico de pressão alta e olhei no relógio da praça a delação do meu atraso. mais uma vez mais de uma hora além do horário combinado com a família. a janta já deve ter esfriado assim como as brincadeiras cansaram de repetir cenas sem um bom vilão (que só eu sei interpretar). evitei encontros ao chegar no saguão do prédio e subi pelas escadas mesmo. oito andares. arrisquei, muitos pais de família despediram-se assim, mas ainda tenho fé nos meus músculos. invadi o apartamento e meu filho correu, ajoelhado abri os braços para apertá-lo e cheirar sua perfeição inacabada. de tão pronto, acho que ele me atravessou, atravessou mesmo como se eu não tivesse matéria ou carne. caiu no chão como se de um tropeço. olhou para mim assustado. não soube responder, apesar da condição de pai exigir uma posição. talvez uma astúcia da natureza para evitar a contaminação do menino, sua infância e abertura. não reagi ou tentei explicar. tratei de brincar de fantasma com a pouca energia disponível.

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