quarta-feira, 25 de julho de 2018

basquete

eu era gurizão e apesar de ter menos de um metro e oitenta me apaixonei pelo basquete. por uns cinco anos joguei todo dia. descobri isso graças a um colega novo da escola (Dudu) e montamos uma espécie de legião dos basqueteiros. graças a nossa fissura por jogar e ao destino, que colocou uma amiga na secretaria de esportes do município (Esteio), conseguimos montar um time oficial. a prefeitura comprou umas tabelas e treinávamos semanalmente com esse apoio. tínhamos um treinador voluntário, éramos amigos, felizes, saudáveis, esportistas. jogávamos um pouco mal por conta da estatura mediana. ossos do ofício. tamanha "estrutura" disponível, fomos convidados a sediar os jogos intermunicipais de basquete do Rio Grande do Sul (JIRGS). enquanto sede, enfrentaríamos os melhores do estado. de três jogos, ganhamos um. não tínhamos uniforme e conseguimos emprestado os trajes do time de futebol da cidade, com mangas curtas. foi embaraçoso e demodê. para mim nem tanto, pois joguei de toca de natação para que meus dreadlocks não atrapalhassem. contra o time de Caxias do Sul sentimos o tempo fechar. eles jogavam muito. isso foi no final do século XX, 1900 e tanto. um cara enorme enterrou em cima de mim. eles eram fortes, grandes, habilidosos. perdemos por muito! de camisetas de futebol, mas com energia e respeito. naquele ano conheci basqueteiros de Caxias. hoje, como um cidadão da serra, cruzo com alguns pelas ruas, não me reconhecem. tranquilo, estou acostumado a transitar nas entrelinhas de tudo que realizo. não ser notado não me entristece. me entristece ver que todo esse esforço, todas essas pequenas conquistas, minhas, de minha turma, dos jogadores de Caxias, não prosperam. simplesmente morrem. não conseguimos provar o valor desse investimento, não conseguimos mostrar que coisas como esporte, cultura, lazer, importam. a cidade de Caxias lotou ginásios com seu time de basquete. isso não tem valor financeiro. isso não vale investimento. não há retorno. criar ou cultivar hábitos, posturas, desportividade, sonhos,  não interessa a ninguém. é caro demais. observo as notícias sobre o Caxias Basquete lutar para se manter no campeonato nacional, vejo as ligas internacionais, a riqueza que circula, os hábitos, as possibilidades. não quero comparar, não quero me sentir um vira-lata, não quero lembrar das frustrações que acumulei lutando por essas migalhas que dão sentido a vida. um jogo de basquete, um show de boa música, um filme sobre nossa humanidade. nada supera o aço, nem nosso cansaço e desistência. todo dia é um toco, por tempo indeterminado.