segunda-feira, 15 de agosto de 2011

tento decorar o som do vento da serra
ou o silêncio rarefeito das sombras
as nuvens mais próximas, madrugadas mais densas
tento não padecer da distância dos amigos
confesso que sigo, que sigo tentando

não morrer de fome de baixos e guitarras
digerindo toadas de viola a unhas curtas
debaixo de uma casca estilhaçada de pai bobo
dividido entre o que sou e o que venho me tornando
(conforme a seleção natural ganha vida em meus genes)

e quando absorvo tanto ar e tão puro entre as parreiras
me enveneno de uma simplicidade que não conhecia
fruto de meu raciocínio (desde pequeno) afeito e adicto ao dióxido
de meu esteio

acho que a eletricidade procura caminhos e alternativas
quando as rotas da memória cansam das reminiscências
e flertam com o estômago e as veias mais encardidas
apelando para gotas encrustadas de um sangue mais sujo
do que aquele com o qual nos vangloriamos
ante ao banquete quase soberbo do herói
perante a morte iminente (de mais um servo)

e conforme caminhamos, trôpegos mesmo,
por não crer mais na ineficiência como única ciência
somos só o grandioso e gentil fracasso
que gostaríamos de ter sido
encurvados sobre tantas perspectivas que nos reservara a vida
satisfeitos por tudo que deixamos de fazer
pela simples falta de percepção e fúria cega
quando só o que tínhamos era uma paz
tão absoluta, que não combinaria com nenhuma boa
moda ou postura de época

uma paz tingida de claras
já engomada e azeda ao sol
de uma felicidade pretensão
ou vida adiada proscrita
reescrita no verso da pele
por decifrar.

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