sexta-feira, 9 de março de 2012

o sono que nos deixa
pouco antes da uma
talvez queira dizer
para banhar-me à lua
ao natural
deitado numa sacada
que sequer existe
mas que imagino tê-la
sob meus ombros
entre o pé do sofá
e a estante da sala

num assombro
triste pelo sono perdido
embalar Fransciso
que finge que dorme
mas já com índole de bandido
desata a relatar sua vida
e as passadas
reinventando os primeiros
sons de PE
os mais lindos até então
com disposição a percorrer
três Maracanãs

E depois que a atividade
se desloca para o intelecto
em desordem
miro lá embaixo
flores mortas e amarelas
que fogem ao vento
o ônibus que tarda em passar
e chegar
um funk gritado
de Cordeiro a Isaac Hayes
(de tão distorcido até fica bonito)
ar rajada que inventa melodias
(ou será que sou eu nessa febre inquieta
de madrugada matraca!)
tanta vida que passa
embora as grades
tanta energia
que realiza a cidade
(pra quê eletricidade?)

tão pouca coisa
que combina com paz
quase esqueço que não estou deslocado
que não inventei esse século
e nem o álcool
que ainda tenho 20,
quem sabe 30 e alguns anos
de criatividade
fruta madura
pra descer ladeira abaixo
na tentativa não exitosa
de sorver suavemente
meu pedacinho contente
de úmida burocracia

o pouco silêncio até tenta
mas não denuncia meu plano
de sabotar o sistema
nervoso central
e implantar um dvd pirata
com sons de mar
mantras de yoga
fés mais eucarísticas
em resposta a minha profusão dilema
espítito-Karde-cristian-budista
que acorda perto e depois da uma
compõe estrofes
redige laudas
tão sábias
quanto um bife ao ponto
sem sangue
sem carvão
sem tinta
o núcleo do que não entendo
o anti-senso
por certo
paradigmêsmico

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