sexta-feira, 7 de março de 2014

um verão desses eu e meu melhor amigo sonoro sentamos numa sacada beira-mar. dessas sacadas curtas, com pouco espaço para acomodar os pés. munidos de violão e uma cachaça barreira musicamos aquela noite inteira com nossas composições. sorrimos e choramos abraços cancioneiros de uma amizade rara, das cordas e da voz desafinada, mas do peito infantil e amistoso da poesia iletrada. admiradores num espelho enviesado, Narcisos meninos. cordas e garrafas quebradas naquela noite, luas menos cheias hoje, mudas quando não as refletimos no tampo do violão, ou numa frase feminina, rima quase fútil, de nossos quereres. nem sempre sou saudoso, excepcionalmente quando finda o verão e a alma degela seu frescor imunológico antevendo a hibernação. a pele lentamente se aquece a medida em que na rua as folhas caem, a umidade se posiciona, as noites fazem morada. há melancolia demais em meu peito para ir até uma sacada dessas hoje, não porque esteja longe da praia, mas porque minha voz acordou da meninice e porque meu amigo há muito não soa suas cordas comigo. tanto tempo que já nem lembro mais.

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