sexta-feira, 13 de outubro de 2017


sempre admirei (e sempre quis ser) essa chuva miudíssima noturna (a de molhar bobo), que só enxergamos contra a lâmpada, oscilando como se fosse insetos desordenados pela tontura da luz. sou gotas grossas e desengonçadas. raramente acerto o alvo, mais visível que elefante, impassível, deselegante. sou água torrente despejada do céu como pranto ou mijo, mijo doente de peste incurável, hereditária. sou chuva precária. migalha. navalha. sou quase água, sou nada. chuva abafada pela secura das vestes. gota graúda que deságua porque teima, teima e se despede. rumo ao leste, rumo aos lestes, quase nortes.

Nenhum comentário: