quarta-feira, 30 de maio de 2018

o consultor

a figura de nosso tempo não é o grande capitalista ou o ativista ecológico. a figura de nosso tempo é o consultor. o consultor faz a mediação entre o dinheiro e o bem-estar, o consultar faz a mediação entre a produção tóxica e a responsabilidade socioambiental. o consultor não produz, mas é especializado nos meandros que envolvem o produzir em escala global e burocrática. o consultor escapa dos riscos ao entregar receitas de êxito para todos, receitas contraditórias. lucro máximo e qualidade ao mesmo tempo, produção barata recorde aliada a baixos índices de poluição e pouquíssimos problemas trabalhistas. o consultor entrega o que promete, em números, em números objetivos. essa figura "entre" não é real, é um símbolo que transita entre o público, o privado e a sociedade civil (sic.?), entre os produtores e os grevistas, entre os reis e os primeiros ministros (nesse campo ele emula um conselheiro real). o consultor leu todos os manuais e controla os procedimentos que ninguém controla, não através dos botões, mas através de placas. ele não faz, ele indica. por isso é o símbolo de nosso tempo, porque é pura abstração que determina o concreto através de números, de quantidades, de exatidão. pouca coisa lhe escapa, embora o risco calculado de sua atividade vá para os outros, para as iniciativas privadas que tentam fazer ou para os governos que tentam apaziguar as populações e manter-se. o consultor é o ser ideal, mais do que o filósofo, é o real intérprete de nosso tempo. sua estética é planilha. gráfica!

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