segunda-feira, 4 de novembro de 2013

visita

cheiro de lençol guardado que se agita quando preenche aquela cama de visita, esperada, celebrada, exausta, mas faminta pela prosa. como é bom adentrar a madrugada nesse espaço de ninguém, essa atmosfera aconchegante do encontro, essa cama recém arrumada, que aguarda tanto tempo no armário pelo calor do corpo, presença da amizade. como nos sentimos tão crianças quando nos deparamos com esse colchão no chão a implorar cambalhotas, tombos cegos, cheiros, tropeços no meio da sala. ansiamos por esse momento, explodimos em novidade que nem sabíamos existir, as vezes bebemos, outras só reafirmamos nossas índoles: imperfeitos, fofoqueiros, cretinos, pagãos. rimos dos tolos, do passado, das fantasias, inocências, afirmações. lamentamos a fugaz passagem do tempo, pouco antes de chegar o sol. dormimos de relance, a rotina dá novo impulso a rotação. o sofá volta a ser o centro da sala, a liberdade outra vez assusta, o lençol espera sobre o braço as tintas aromáticas e a maciez química do tanque. dormimos tensos, de ouvido atento, a espreita de qualquer estranha visita que justifique manchá-lo outra vez com a densidade vivaz do intervalo.

Nenhum comentário: