quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

menina de azul do guichê perto da porta, continue a apaixonar-se por mim ou por outros, desde que perdidamente. moça sorridente do bar do prédio anexo, deixe também o peito aberto para seduzir os desavisados que não sabem o quanto você ama seu bem (que a essa hora flerta com alguma conhecida do micro ônibus da empresa). caloura de olhos azuis e calça branca, embriagada pela naturalidade dos veteranos ou pela lábia das professoras, nem tão lindas quanto bem-sucedidas, apaixone-se, apaixone-se sem cessar. me deixo apaixonar há tanto tempo, por tanta gente, que passei a aceitar a natureza sedutora de estar vivo. não se trata de puro desejo ou deslumbre, ou febre sensual. fico na superfície, na superfície dos primeiros olhares, das descobertas mais simples, das coincidências mágicas. elas repetem-se infinitamente. há sempre uma fórmula e uma combinatória para o matemático enamorado (rudemente nomeado poeta das madrugadas). não há razão para viver sem deixar-se tocar pela paixão. por isso uma só, aquela arrebatadora e perene, parece pouco. é necessário mais, não para os indivíduos, não para os corações ou para as satisfações de pelo. essas ocorrem de forma semelhante nas jogatinas de sábado, nos plantões médicos, na supremacia do olfato. apaixonar-se implica familiarizar-se com o mundo, tê-lo próximo e significativo, a paixão serve para comprovar a humanidade, muito mais do que a linguagem, as fábulas ou os deuses. paixões cruas de balcões de farmácia, de encontrões na praça, de ódios sem razão. me apaixono com frequência e preservo esses calafrios. como cápsulas de humanidade e como armadilhas anti-fidelidade. como presunção e como reforço a minha necessidade de sentir-me mundano (não quero racionalizar tudo). depois, entre um gole de vinho e uma carícia amante, realizo tais fantasias no ar, em desarmonias e falsos acordes, nos cadernos de aventureiro, no peito, no bruto peito. e deito fiel, sem medo, sem senso, sem receio. seu inteiro. 

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