domingo, 20 de outubro de 2013

eu artista eu biógrafo

"o artista vai onde o povo está"
e muitas vezes, traduzir o tempo em arte
significa aproximar-se, fazer concessões, ser polêmico
querer muito ser ouvido e amado
o artista sobrevive das incertezas
as suas e as de seu tempo
subitamente, a equação se inverte
amor e paixão distorcem as medidas
o público agora precisa dele
de suas verdades, de suas frivolidades
das formas intempestivas ou vazias
de entretenimento ou filosofia
consagrado, o humano entra em crise
não se reconhece, inebriado pela popularidade
vaidade compreensível e autêntica, porém ardilosa
quando o artista confunde-se com arte
quando imagina ser autônomo
sem necessidade de contato
da presença, do interesse pueril
porque sim, a tietagem sobrevive do mistério
a admiração é piegas e esse foi o caminho traçado
o criador sisudo morreu romântico tuberculoso
após as revoluções, as oportunidades combinam com as vedetes
delas dependem, a elas se amalgamam
e fornecem sentido ao realismo cotidiano
são o próprio imaginário concreto e sensível
é o ponto onde o artista não suporta mais
exige privacidade
pede o retorno a seu universo lúgubre criativo
repleto de melancolia e paz
como nos primeiros anos de anonimato
quando tudo que sonhava eram aplausos e afagos
ou apenas frases curtas e sinceras de compreensão
na condição de órfão, se imagina recluso
e conclama o público a defender sua individualidade
mas sua alma já pertence ao universo dos maus nascidos
dos herdeiros sem classe da mediocridade animal
ele se desvincula do escárnio onde repousam os homens
semi-deus reinventa o palco solitário da velhice senil
jaz improdutivo e amargo
capa da Caras ou de uma biografia não-autorizada

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