domingo, 27 de outubro de 2013

Laurie & Lou

lidei com um sentimento diferente hoje a tarde, ao receber a notícia da morte do Lou Reed. Através do Facebook notei homenagens, músicas, alguns comentários, logo abri um portal de notícias e na capa a confirmação. Antes de entender o significado, de abstrair as causas e consequências, pensei na Laurie Anderson, sua esposa. Já fui fã de Lou Reed, admiro sua obra, tenho alguns discos; certamente é um dos grandes personagens musicais da história. Nada disso passou pela minha mente ao vivenciar sua despedida. Pensei no luto de Laurie, na forma como recebera a notícia, nos derradeiros momentos, essas etapas marcantes que antecedem a perda. Me pergunto os motivos de sua imagem surgir assim, se tem relação com minha situação atual de proximidade com a família, o peito apertado pelo amor aos filhos, essas redescobertas cíclicas sobre o que realmente move a vida. Ou se essa intimidade deriva do breve contato que estabeleci com ela, nos camarins do Teatro do Sesi, tentando ser prestativo e acertar o acento do inglês ao mesmo tempo. Naquelas tardes e noites de extrema pressão, quando Laurie Anderson abriu o Porto Alegre em Cena, convivi um pouco com essa senhora elegante e de simpatia ímpar, que expressava gratidão em pequenos e contidos gestos, agia com respeito e leveza, em contraste à potência e vivacidade no palco. Na última noite, momentos antes da apresentação, ela chegou a me oferecer goles de seu vinho, que recusei, mas talvez isso tenha dado abertura para que eu a presenteasse com um CD de minha banda, SOL, No descompasso do transe retalhos do meu silêncio. Para minha surpresa, mas confirmando a sensação de conforto que o contato com ela favorecia, Laurie pediu que eu autografasse o disco, "it's yours? did you play? great!". Empunhei a caneta trêmula e timidamente, mas assinei com o pulso firme. Não tive qualquer pretensão com essa entrega, foi algo impulsivo, inexplicado, quase místico. Foi mentira, já não lembro mais. Espero que ele esteja bem nesse momento difícil, ainda não consegui pensar sobre o que será de Nova York, do noise ou de Win Wenders sem Lou Reed.

3 comentários:

jamer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jamer disse...

Que massa, meu amigo. Belíssima e ímpar lembrança.

b r i s disse...

por pouco não encontrei o próprio Lou Reed, não quis vir a Porto, preferiu ficar em São Paulo.