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vi hoje uma cena que me instigou a escrever. mas quando ia
postar, o facebook me alertou: compartilhe essa lembrança de 3 anos atrás.
frase idêntica. será a primeira primavera após meus 11 anos em Caxias que não
escreverei sobre as frutas urbanas que morrem estéreis nas calçadas. achei
muito cruel a inovação da poética 4.0. nem o mais do mesmo posso ser com
ingenuidade. apesar de que sempre guardei tudo que escrevi, gravei tudo que
cantei, preservei trapos e quinquilharias autorais justamente por isso. não sou
de ser entrega, sou de processo. nunca fiz nada como fim, estou nesse meio, por
tempo indeterminado. guardo tudo, não para posteridade, sequer para herança ou
reconhecimento póstumo. me leio, me escuto, me vejo. talvez em demasia, como um
Narciso ao avesso. mas não por admiração. estudo? psicanálise? quem era eu
naquele tempo? "olha como repito esse dilema. oh deus, sou o mesmo moleque
de sempre!" por certo, não seria quem sou, não fossem esses retornos, esse
debruçar-se sobre o que escrevo, escutar-se distante, perdido entre as eras,
simplesmente por medo de ser mais enérgico com o tempo. não sou. respeito.
deixo a poesia reaparecer como ciclo e desventura, como o aviso do vento,
"é de novo janeiro e você ainda não cumpriu aquela palavra" (de
tantos e tantos dezembros de água e Iemanjá). escuto as cartas como retratos ou
garrafas de náufrago. e volto a escrever, apesar da página avisar: "há uma
lembrança perdida a recordar, não reescreva se é tão fácil voltar". meu
passado nunca é nostalgia, navega hoje, treva e superfície. as vezes avança,
mil vezes naufraga, e lança óleo poético nas profundezas do Atlântico.
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